
Nele encontro toda a vontade de viver nos locais que não conheço, mas que visito todas as vezes que meus olhos descansam. Locais enevoados, sombrios, que escondem o conforto que não encontro, teimam em aparecer dentro de mim, como se a aventura fosse minha amiga e por mim chamasse.
Neste quarto, enquanto a névoa que lá fora se formou entre os pinheiros vistos desta janela, viajo mais uma vez por locais surpreendentemente meus. Caminho entre o silêncio da noite e a beleza tristonha da solidão.
Onde a melancolia traz o conforto que mais nenhum prazer é capaz. Nessas noites silenciosas e tristes, vivem-se poemas, admirando o nevoeiro que me cerca e as luzes amareladas das ruas que não conseguem chegar ás pequenas quelhas. O silêncio diz tanto que não existe palavra que diga o que ele diz. E nele está o chamamento, o sentimento, que por mim chama, a vontade, o desejo, de morrer para a chamada vida e viver para o que ninguém entende.
Caminhar na calçada da noite, abraçando a bruma, sentindo o seu sabor. Saborear a vida que ninguém vive, provar o desejo que me consome pelo tempo que teima em passar, sabendo que morro um pouco mais todos os dias.
E saber que aqui morro, enquanto que no local que o sono traz vivo, apago-me mais um pouco. E ela por mim mais uma vez chama, a aventura de por este quarto sair, sem destino ou rumo pensado. Desejando somente o conforto que existe nos momentos em que todos se afastam, abrindo o caminho para uma liberdade surreal.
Murmuram-se mais umas palavras, num sorriso que se esconde no frio que se sente. E caminha-se na rua escura que tanto me diz, de cigarro aceso procurando aquilo que ainda não encontrei. Visito ruas que nunca conheci cruzando-me com quem procura o mesmo que eu. Talvez um dia viajemos para toda a parte, no conforto que procurámos no vazio. E tropecemos, rindo, em estações de comboio pela madrugada, visitando mais uma cidade deserta que abençoa o que em nós existe, mesmo que seja um vazio existencial.
Entretanto, neste sonho, deito-me em bancos de jardim enquanto os carros ao longe passam e as estrelas lentamente o céu rasgam. Sento-me em passeios e observo tudo aquilo que sempre quis.
Nessas noites sombrias, nesse silêncio que tanto diz, vive-se o poema que hoje escrevo.