
Cada dia é um tormento que tento sobreviver. Desde que ganho consciência da minha vida quando, ainda de olhos fechados, volto a ouvir o silêncio do meu quarto, despertando algures entre um dia que já nasceu á algum tempo. Cada dia é um tormento que aos poucos vou perdendo a força para sobreviver quando vagueio sem destino sentindo o dia a escapar entre os dedos, a vida a ser desperdiçada, os problemas e conclusões que criam este mundo de emoções angustiantes dentro de mim e não me largam um segundo que seja. E as noites solitárias que trazem o silêncio que tanto magoa e nos envolve ainda mais em nós mesmos.
Não é segredo nenhum. A minha vida fugiu-me. E fiquei eu, aqui, vazio.
Olhem para mim. Olhem para dentro de mim. Leiam a minha pobre alma que se apaga à medida que o tempo vai passando. Não trago mais nada em mim a não ser a angústia de viver, a dor de tanto em mim sofrer, a tristeza por tudo perder e o desespero por nada, nada, conseguir ter.
Tenho um choro tão puro dentro de mim que se sente bem demais neste silêncio. Um choro que não se preocupa em conter, recheado de dor. Mas que apenas faz com que o meu olhar desça até aos meus pés e force o maxilar num acto de desespero. Estou apenas a reviver em mim memórias que despedaçam este coração, só mais uma vez. O futuro não é nada mais do que mais tempo para recordar o tempo que passa. E com ele os sentimentos e emoções que em mim permanecem. A vida ficou para trás. Não há futuro sem ela.
Há um olhar morto, espelhando a inexistência de vida neste corpo. Mais tarde ou mais cedo, mais uma noite voltará e trará toda a dor e todo o sofrimento que não me larga por eu ter morrido para tudo o que possa existir. E com essa noite, voltará também mais uma manhã que trará aquele despertar tão triste e que um simples abraço à almofada não chegará para confortar. Lá fora chove, faz sol. Cá dentro morre-se, sempre.
As palavras estão tão gastas…
São mais que muitos os suspiros e as vezes que o rosto é escondido pelos braços e as mãos de alguém que tenta de algum modo esconder esta dor.
Um dia explodirei em todas as vossas mentes. Vou dar o grito que acabará com este pesadelo, e será ouvido em todas as mentes em que eu possa existir enterrado. Verão este olhar morto que tudo observa e tudo sente, como se já não tivesse visto e sentido demais.