quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Leva-me embora

Leva-me embora.
Fico noites inteiras à espera que a pedra bata na minha janela mas nunca apareces. Eu aqui só tenho dor, sabes muito bem. Colapso todas as noites quando entro em conflito comigo mesmo. A dor de ser quem sou não podia estar mais presente em todas as noites que aqui sozinho fico pensando em tudo aquilo que fez com que me perdesse de mim mesmo.
Deixei a escola, como tu um dia disseste que ia fazer. Sinto-me fraco demais para enfrentar os dias como eles se tornaram. Cheios de uma dor que o tempo trouxe de volta e juízos de valor por aquilo que me tornei. Já não sou metade do que fui. Perdi toda a minha vontade de ser alguém para mim mesmo. Desisti de mim quando me apercebi que tudo aquilo que um dia acreditou em mim me virou costas. Nunca devo ter merecido seja o que for. Mereço este silêncio que magoa nestas noite mortas, que trazem todos os fantasmas que assombram esta pessoa que aqui morre.
Não tenho futuro. Tudo me deixou para trás e com isso sou incapaz de acreditar em tudo o que me possa salvar. Os meus dias tornaram-se em sonos profundos e as noites em horas de solidão acompanhadas de cigarros até que o sol nasça novamente. Mas acabo sempre por ouvir os gritos que se dão fora deste quarto. São por mim. Esta descendência nunca irá vingar. Aos poucos a minha dor alimenta-se de ela mesma ao ponto de não me querer sentir mais uma vez. Sinto-me tão farto de mim mesmo. Leva-me embora daqui, por favor. Até mesmo as ruas desta cidade se tornaram familiares demais. Que prazer tenho eu em visitar sítios que conheço melhor que eu mesmo? Sempre disseste que mais tarde ou mais cedo eu iria chegar à conclusão de quem realmente sou. Tinhas razão. Sou simplesmente alguém que não merece nada a não ser o ódio por ele mesmo. Ódio.
Ódio. Dor. Por tudo aquilo que eu já senti e entre os dedos escapou. Tudo aquilo que levou quem era e me deixou sem saber quem sou. É por isso que te peço, leva-me embora. Roubei o pouco dinheiro que havia em casa e tenho duas trocas de roupa. Se não vieres comigo vou eu sozinho. Quero ir por estradas secundárias, cortando Serras, aldeias e pequenas ou grandes cidades. Não quero proferir uma palavra que seja. Viajar. Só viajar. Quero deixar toda a dor que me atinge neste quarto, ouve-me, por favor. Levo comigo apenas a dor que em mim permanecer e espero deixá-la pelos locais que visitar, que com as pessoas que conheça arranje maneira de a esquecer. E não precisámos de voltar. Comemos pequenas refeições para alimentar, de vez em quando comprámos álcool para rir e dormimos em becos sem aborrecer ninguém.
Eu só quero fugir de mim mesmo e do que vida me trouxe. Do nada que me espera e da angústia que comigo mora. Por tudo aquilo que me perderia em lágrimas se tentasse explicar mais uma vez como já o fiz a mim mesmo vezes sem conta. Quando a nossa existência nos dói, algo está muito mal. Quando somos motivo de vergonha, quando não temos futuro, quando somos abandonados, quando não conseguimos voltar a sentir de novo, quando passámos noites tão solitárias que nos matam aos poucos, quando não encontrámos prazer em seja o que for, quando sentimos que não pertencemos onde estamos, quando sabemos que nada em nós irá mudar… por favor…
Eu sei que não me conheces de lado nenhum, mas leva-me embora.
E não precisámos de voltar. Eu só quero é viajar. Viajar.

10 comentários:

Anónimo disse...

sabes, uma coisa k ele me ensinou foi a tentar estar bem e gostar de mim por mim, nao pelos outros.
ele dizia k eu tinha k ficar bem, nao por ele, mas por mim.
e faz sentido, sabes?


eu nao sei o k dizer mais pa te animar...




as coisas um dia passam.
vao ser melhores.
mas isto ja começa a tornar se repetitivo em mim...





bjinho em ti*

Anónimo disse...

nao consigo perceber se escreves aquilo que realmente sentes ou aquilo q t da prazer a escrever.
ainda ssim, gosto de ler. identifico-me por vezes. pq de vez em qd tb passo horas no 4o a ouvir gritos (mas so dentro da minha cabeça). ha q pensar q mlhrs dias virao =)
[*]

Anónimo disse...

eu as vezes n consigo distinguir, e no meio da realidade misturo coisas q nem sei se existem. e é tao bom qd tudo parece voltar a ficar bem... n penses d+. eu penso 1000 coisas a td a hora e isso n faz d mim uma pessoa mais feliz (muitas vezes ate tem o efeito contrario)
[*] animo e outras coisas (gomas, p exemplo)

pisconight disse...

Já cá não vinha à algum tempo, mas continuas a escrever com sentimentos tão fortes que tornam a leitura magnífica.
Um abraço e bom fim de semana!!
;)

Anónimo disse...

As tuas palavras são sempre pujantes..sentimentos e emoções à flor da pele que clamam em ser exultadas. Um beijo enorme :)

Stalosia disse...

Não consigo escrever o que me fazes sentir ou pensar... mas, tens-me como comentário nº8 para saberes que não me és indiferente.

Anónimo disse...

Entrando de mansinho apaneas para te deixar um beijinho ;)

Micas disse...

A vida é uma viagem por si só. Acreditar é preciso...
Escreves divinalmente.
Beijo

um cavalo ou um boi disse...

Às vezes venho aqui só para ouvir a música.

Anónimo disse...

e incrivel como a realidade se mistura com a fantasia vezes sem conta , a tua historia e a historia de milhares de pessoas , poderia ser mesmo a minha quem sabe???, mas e bonita a maneira como escreves, como colocas sentimentos em palavras , escreves de uma maneira magica quase irreal diria mesmo encantadora, um feliz natal e não pares de escrever .




jose