Sinto-me tão doente que me vejo incapaz de acabar mais um cigarro, mesmo que continue contra mim mesmo.
O silêncio chegou de novo e com ele, todas as paranóias que me levam a desejar o fim que tanto falo e parei de tentar alcançar. De que vale morrer agora com tanto por ver e sofrer, como assim aconteceu até hoje? Gostava que um olhar me beijasse a alma, salvando-me de mim mesmo, mas todos os olhos que vejo na rua estão cegos. Nunca irei pegar num telefone e lamentar-me para alguém, deixo isso para mim mesmo, por mais auto destructivo que seja, sabendo que todas as noites me aproximam mais da dor que carrego em mim. Da dor que sinto nos mais banais dos despertares, nos mais belos dos sorrisos que vejo e sou incapaz de tentar alcançar, nas paredes desta casa carregadas de segredos, ou mesmo até no velhote que pela manhã já se encontra no café a beber sozinho, de fato velho e o seu cheiro a carne que apodreceu.
Nunca ninguém me pediu para sentir, mas hoje em dia ninguém pede nada a ninguém, porque todos têm o direito a qualquer coisa, mesmo que conscientemente causem dor à pessoa mais próxima. Limito-me a observar o curso natural de tudo o que me rodeia e revolta-me que ninguém faça nada para mudar seja o que for. Eu próprio já perdi toda a força que num momento de revolta possa ter ganho, por ter deixado cair o mais belo dos quadros que possa ter desenhado. Vejo felicidade naqueles que vivem numa constante mentira que o tempo lhes ensinou a acreditar e angústia nos que sempre tentaram de algum modo alcançar algo que desde sempre faltou. Caminho entre todos eles em silêncio, sempre na esperança de não perturbar seja quem for que me possa magoar mais tarde. Levo nos olhos a dor que guardo em mim e que não desaparece, mesmo na alegria dos pequenos pormenores que não são incapazes de escapar. Como a pequena criança loira e irrequieta, vestida de marinheiro por uns pais que nunca irão adivinhar o que ela poderá sentir nas primeiras decádas de vida, no tempo cinzento que é incapaz de trazer a tristeza de uma chuvada e a alegria de um sol radiante, ou até no meu gato que me sobe até ao ombro e ali fica sentado, olhando pela janela enquanto escrevo.
Cada dia que chega é mais um recheado de pensamentos que se tentam decifrar, quando todos eles se repetem rapidamente, como uma mensagem escondida numa música antiga que é tocada ao contrário. O único conforto que sou capaz de sentir, é o de saber que não arrasto ninguém no pesadelo que vivo quando deixo o mundo de sonhos que me perturbam. Não obrigo ninguém a sentar-se na ponta da cama, tocando-me no ombro, pedindo calma, quando luto entre os lençóis comigo mesmo sem me mexer, mesmo que por vezes o desespero me leve a querer alguma entidade disponível. Sou capaz de me sentir cansado de gritar sem usar a voz. Sou um simples parasita de mim mesmo, corroendo a própria alma até à exaustão física e mental. E hoje, assim como ontem, sinto-me cansado de me ter como me sou, sabendo que não vale a pena combater numa luta que lá fora, ninguém, se apercebe que existe.
quarta-feira, julho 12, 2006
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14 comentários:
Este texto esta lindo, esta perfeito, a unica diferença é que eu não fumo, mas essevazio tao abafado(sinto isso) é o que tb vivo. beijos
olá ;)
obrigada pela tua visita
também gostei de te reencontrar
levanta esse moral, sim?
beijokas
alice
as pessoas cada vez mais deixam de ouvir o k ta dentro delas. tentam abafar essa coisa la dentro a todo o custo. ate k um dia acordam e nao ouvem mais nada vindo de dentro de si mesmos. e é por isso k cada vez se ve pessoas com olhos cegos e vazios na rua. é o grande problema da sociedade (cmo um todo, nao sociedades).
abraço te*
Dizem que quando nascemos temos duas asas, mas uma delas é-nos retirada imediatamente. Existe outra pessoa que tem o par da tua asa. Alguém que sofre em silêncio em tua homenagem, alguém que morre como morres, alguém que vê tudo de forma similar à tua. Muitas vezes essas duas pessoas cruzam-se, mas não prestam muita atenção uma à outra. E quando é tarde demais arrependem-se. Quando essas pessoas se juntam podem-se ler uma à outra com um simples olhar. E transmitir paz uma à outra, elas partilham o sofrimento e entreajudam-se. Até se encontrarem sofrem muito e mesmo quando se encontram não acreditam que possa ser verdade com medo de estarem a iludir se uma vez mais. Só queria dizer-te que a entidade já esteve perto de ti, só precisas de aceitá-la e saber (tu já sabes) através de quem podes estabelecer contacto cm ela. A paz espera-te apenas tens que aceitá-la...
Agarra numa mochila e num saco-cama e... baza!
Vai curtir maluco!!
Strong blood!
P. S. O texto, como seria de esperar, é muito bom.
desculpa-me a invasao, oh estranho que escreve bem!
napo te sintas parasita de ti mesmo, não te sintas um estranho no mundo, não te sejas alien... todos temos um pouco de dor e de exaustão dentro de nós, só não pdemos deixa-la apoderar-se de nós. a vida é demasiado curta para isso. existe demasiada vida lá fora.
combate o cansaço, combate o comodismo de alma que te faz não querer mais acreditar na mudança...
1 beijo*
Também podes descontrair de maneiras mais mundanas... (põe as gajas a pagarem-te as despesas... Igualdade de direitos! JAJAJAJA!!!)
Porta-te!
sai do quarto e vai ver o mundo lá fora, talvez encontres o que procuras... gosto muito do que escreves, estive ausente e mal cheguei fui ver como estavas, tens que te esperança ainda és tão novo
bjs
luca
Acho q sentir é a unica coisa q ainda nao se paga neste mundo.*
adoro tudo o que escreves mesmo nao sendo nada feliz...
queria agradecerte por sentires tambem desse lado e agradecer tambem por teres cumentado...
eu nao vou dizer para seres feliz nem para olhares em frente como mts amigos teus...eu só te posso dizer que as lagrimas sao o reflexo da esperança e que mesmo que nao te pareça a sempre alguma coisa que te impele brutalmente para a vida...e eu sei que nao es menos....e quando encontrares o que ata a ela...entenderas entao que nao es parasita de ti mesmo...só alguem triste sem vontade de viver...
gosto dos teus comments...se entre devaneio e devaneio te apetecer dizer kualker coisa...simplesmente escreve...ecreve num post o que te vai na alma...eu vou tar aqui pa ler...se isso serve de algo...
ja venho aqui ha algum tmpo, mas nunca entendi bem o pq de tanto desanimo.
no fundo, ha q acreditar q somos bons e q vivemos bem sozinhos. tlv por momento consigamos ser felizes. liberta-te de tudo, pq isso nao é vida.
Morreste, pá???
Best regards from NY! » »
Keep up the good work » »
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