Não me pretendo repetir, muito menos criar mais olhares ou pensamentos de uma surpresa irónica por estas palavras por dizer. Apenas pretendo me abrir e despedir.
Escrevo esta última memória nesta última noite, depois de muitas outras, tão longas e tão carregadas pela tristeza que me venceu. Tão cheias da angústia que me fez agir como um louco abandonado, na aflição, no desespero que trazia as lágrimas que ferviam na face, no grito que se fosse dado não traria o equilíbrio que todos precisamos.
Infelizmente, é a última recordação que daqui levo. Toda esta dor que se desenvolveu sem que ninguém acudisse… E não há ninguém a acusar por tal, apenas mais uns longos minutos num olhar triste por saber que mesmo que acudissem, nada podiam fazer para afastar a minha consciência de mim mesmo. Toda esta dor que até ao fim me consumiu e que hoje, me fará desaparecer, não por culpa de seja quem for, mas pela espiral doentia, corrosiva, desesperante, auto destrutiva e todos os outros adjectivos que perdi a vontade de citar. Acabei-me. Esgotei tudo o que havia em mim.
A insegurança, o medo, o auge absurdo de uma dor que me esgotou a vida que havia para viver, não desaparece, nem quando aparece ou se recorre à dor física. Persegue, corrói, consome e por fim, matou.
Sinto-me rodeado de memórias recalcadas.
O resumo de uma vida que passou por mim feito numa fracção de segundo faz-me crer com a mórbida certeza que pouco ou nada acabei por viver. Vivi uma vida infeliz interrompida por momentos que me fizeram crer o contrário da certeza que hoje tenho. E é recordando também esses momentos que afastavam esta nuvem negra, que à medida que o tempo passou me atingiu cada vez mais, tudo parece ter um sentido que ninguém gostava de encontrar na sua vida. Tudo parece deslocado.
Quando o amor, no verdadeiro sentido da palavra, belo, intenso e emotivo, e o conforto que encontrámos em casa, na amizade e em todas as nossas pequenas coisas foge, nada resta a não ser um vazio aflitivo e cruel para quem nunca esperançou na vida. Permanece apenas uma desesperante impotência, uma irritante incapacidade de mudar seja o que for, por saber que, quanto mais tento, menos tenho. Por saber que tudo o que poderia existir e não existe, leva-me a uma loucura desesperante no tempo que passa e não volta mais. Destrói-me. A insanidade nunca esteve tão perto. Por tudo o que teima em fugir entre os dedos que desesperadamente tudo tentam agarrar. Grito para nada me ouvir e silencio-me para tudo me escutar. Tanto uma coisa como outra trazem a sua insuportável dor.
Passei por esta vida sem odiar alguém em particular mas detesto quem todos conseguimos ser, por mais estranho que possa parecer. Sofro mais do que possam pensar por ter perdido quem já não tenho, quem partiu deste mundo pensando o que nunca vou adivinhar e por não ter dito tudo aquilo que sempre senti. Quem, no inicio me moldou e no fim me deixou ser, para hoje me arrepender por nunca ter dado metade do que carinhosamente me ofereceram, mesmo que ainda dolorosamente consiga visualizar os sorrisos, ouvir os risos e sentir os choros, por ter sido quem era e ser quem sou. Por tudo isso arrependo-me de tal forma que me sinto sujo e peço desculpa, mesmo que em vão.
Hoje, como tantas outras noites sinto a tristeza de ser quem sou, de ter sido quem fui e por não ter nada do que tive. Parto por vontade própria, por saber que nada consigo mudar, no desespero pelo tanto que podia acontecer, que nem os meus gritos ou o meu silêncio podiam trazer.
Neste silêncio consigo ouvir o cigarro a queimar-se a si mesmo entre os meus dedos, a desaparecer lentamente, assim como eu o faço a mim mesmo, por mais uma vez, dentro de mim, não encontrar nada a não ser esta dor que me despedaça. Esta dor existencial que invade o meu peito e até ao fim me dominou. Resume-se uma vida que existiu entre a que hoje (não) tenho. A cabeça bate desamparadamente na parede que me serve de encosto ao visualizar o sorriso e o abraço, o toque e o beijo, a pele e os movimentos de um corpo, todo ele suave e quente, todo ele partilhando o amor que um simples olhar enchia de vida quem nunca encontrou rumo. Os momentos e os silêncios confortantes que pouca gente experiência são hoje revividos emocionalmente, de tal forma que a sua falta, mesmo que no fundo estejam presentes, endoidecem quem tanto quer o que nada tem.
A triste saudade pelos momentos que teimam em não voltar é demasiada. E magoa senti-los cada vez mais distantes, quando muito bem podiam existir de uma forma que hoje não pretendem. Esta é a página em que despeço de tudo o que existirá sem mim.
Ouvi dizer… Que o amor é a doença em que julgámos ver a nossa cura. Esvaneci por neste momento amar tudo o que um dia me amou.
segunda-feira, janeiro 02, 2006
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Ouvi dizer que o mundo acaba amanha, ams tinha tantos planos para depois... Ornatos é muito bom.
Deve ter sido comigo deve. Pá o uptown é facilimo de encontrar. Sobes a Rua da Alegria e tá em frente da blockbuster. Um dia tens de ir lá.
fica bem
eu fikei com medo.
tou assustada.
nao podes fzr o k quer k tejas a pensar fazer.
nao podes.
e eu nao sei.
mas quero falar ctg.
tou assustada com o post e apetece me chorar.
Adoro o sentimento que é transmitido nas tuas palavras, embora por vezes dá ideia de que a amargura e a tristeza são amansadas.
Fica bem!!
;)
Enviar um comentário