domingo, janeiro 22, 2006

Suicídio em Fevereiro

Tudo começou com um simples plano alimentado por uma alma perdida, mesmo já sendo um fantasma do que fui.
Não há nada nem ninguém que nos chegue ao coração pela simples vontade de querer lá chegar. Não há lágrima que preencha o vazio que invade o peito quando menos se espera. Nenhuma lágrima irá fazer com que amanhã acorde numa outra realidade. Mesmo assim, estas lágrimas não param de ser choradas.
Porque a dor é imensa, demasiada para continuar, como se o coração estivesse a ser esmagado pela mão que não conseguimos ver. Abstrai de tudo o que rodeia, o local, o tempo. Apenas corrói dentro de mim a dor e o desespero, no limite da loucura. Faz com que o corpo trema descontroladamente até que o sono chegue ou as lágrimas descansem por uns minutos.
Tenho a vida desfeita em pedaços que me abatem ainda mais sempre que observo como realmente perdi tudo o que tinha. Talvez tenha amado tudo de uma maneira como nunca antes algo fora amado, porque consegui com que hoje apenas me restem as lamúrias de quem um dia sorriu em sentir uma vida pela frente. Amo demais para deixar de amar. E dói… mata! Sentir um fim no infinito.
Sentir que nunca mais terei a felicidade que morou em mim é a maior frustração que posso sentir, superando a de saber que todos os dias que chegam até mim sucessivamente são um desperdício de tempo, que desaponto e desiludo todos aqueles que me rodeiam, que todos os dias acordo cada vez mais na esperança de hoje adormecer de vez… Sinto-me completamente destruído, destruindo ainda mais o que tento encontrar.
Já não existo nas mentes que me conheceram, se o faço, apenas magoo ou desiludo de tal maneira que me possui uma angústia que me faz querer explodir.
Sou um mero fantasma do que fui! Existo para assombrar o presente de quem me deixou no passado e por isso vagueio sem destino em ruas que não conheço, com a vontade de nunca mais voltar.
A minha ausência não seria mais nada do que um novo espaço a completar. Nunca mais sentiria a culpa de ser quem sou.
E é tão fácil desaparecer… que seria errado não o fazer. Tudo será melhor sem alguém que continue a desiludir quem criou e educou com suor e lágrimas, que continue magoando tudo e todos aqueles que merecem viver. Morrerá a mente drogada e louca, para o bem de todos que merecem. Pondo fim a esta vida de solidão e angústia.
Voltarei em Fevereiro até que o infinito o permita, como alma penada, ecoando o meu ultimo choro nas ruas e becos da cidade assustando quem vive, para caminhar a ultima caminhada que se aproxima.

5 comentários:

Anónimo disse...

Acho que te compreendo...


"Make tomorrow new."
Elliott Smith

Anónimo disse...

assusta me...
o que li.
e o que me passa agora pela cabeça.

Anónimo disse...

Os teus textos são de uma intensidade tal... Um beijo enorme :)

Anónimo disse...

A tua escrita tem sempre uma intensidade tal...dificil ficarmos indiferentes a ela . Beijos muitossssss

Anónimo disse...

Não é assim tão fácil, como isso, desaparecer... Alguma vez tentaste, para saber? Sentes uma grande angústia, porque sabes que poderia até ser diferente, e culpabilizas-te à mesma, porque acreditas piamente que se não foi melhor, foi porque não te esforçaste o suficiente...Tal como desiludiste em vida, desiludiste na morte... E a suprema ironia da vida é darem-te mais uma nova oportunidade, quando já não a queres ou pelo menos, desejas não a querer... E no entanto, agarras-te a ela, com unhas e dentes, como uma esperança fugidia... Que logo passa, assim que te apercebes de que nada muda. E enquanto tudo isto se passa, numa espiral de culpas, recriminações, remorsos, angústias e becos sem saída, ninguém se apercebe... Ninguém estende a mão, porque ninguém desce ao abismo... Ninguém imagina que o abismo mora ao lado, sequer!
Mas, no teu caso, haverá esperança... És novo e tens tanto talento para escrever... Devias publicar um livro; não que a tua dor deva servir de repasto ou consolo, mas para encontrares um trilho que te traga do mundo dos mortos, pois estás morto, em vida!... Não quero parecer presunçosa, nem ter a pretensão de compreender toda a tua dor ou aliviá-la um pouco,não sei realmente porque te sentes assim, só conheço as minhas próprias razões...Mas custa-se saber que alguém tão brilhante, se possa sentir tão inútil... A coragem das tuas palavras é não teres medo de expor os teus medos e o teu desespero... De forma tão crua e despida de formalismos literários, tal como a vida...
Beijinho e, por favor, não deixes que a tua estrela se apague... isto vindo de alguém, que não te conhece e, possivelmente, não poderá ter a pretensão de te entender... A tua frase: "é tão fácil desaparecer... que seria errado não o fazer"... foi também o escudo e a protecção que armei para decidir-me... Vá se lá saber porquê, não resultou... Ironia da vida ou o meu pior fracasso, porque nem nisso consegui acertar!