quinta-feira, janeiro 19, 2006

Onde está a minha mente?

Dói-me o estômago.
Encontro-me numa serenidade angustiante enquanto caminho por estas ruas, talvez todos os que me rodeiam carregam a sua dor à sua maneira. Trago no meu rosto as marcas de quem sou sem que ninguém se aperceba, no meio desta multidão de corpos que seguem a sua rota. Estou sozinho entre vocês, aqueles que caminham com esperança e ignorância nesta vida que pensam viver. Existe um enorme vazio aqui. Conseguimos ser tão cegos. Paro entre as ruas velhas que se fartam de ser usadas por quem não as vê e tudo fica silencioso. Paro de ouvir os passos que continuam a ser dados, o som dos automóveis que continuam a passar, as buzinas que ao longe continuam a apitar e apenas consigo ouvir a minha longa e cansada respiração, como se o tempo abrandasse e eu, intemporal, existisse. Mesmo as minhas pálpebras se fecham lentamente e o fio de fumo que sai do cigarro parece uma simples linha que se distorce lentamente no ar.
Invade-me uma espécie de arrependimento por tudo aquilo que sou, como outrora acontecia sempre que as minhas pupilas dilatavam pela distância em que a minha mente se encontrava. Chego à conclusão que existe vida para além daquilo que possamos ter e ser porque o tempo não tem dono e não espera por nós. E perder o fio à meada ganha um novo significado. Enquanto que os vossos passos lentamente continuam a ser dados, as asas dos pássaros ao longe lentamente continuam a bater e os vossos olhares demorem mais tempo a desviarem-se de mim, queima-se angustiosamente o tempo. É-me doloroso sentir a impossibilidade de viver no que tenho e sou quando estou consciente que nada me entusiasma para além da sua frágil existência. Perco a habilidade que sempre tive de amar desde um pedaço de chão que um desconhecido calca até a nuvem que faz com que a chuva numa noite de Inverno me caia em cima, quando me apercebo que não existo em sincronia com tudo o que me rodeia. Perco a tendência que outrora fez parte de mim, de sentir uma empatia espontânea por tudo o que existe, mesmo que não me diga respeito, como as pessoas que nunca chegarei a conhecer ou mesmo os locais que nunca irei visitar.
Sinto-me farto de repetir as mesmas palavras e estados de espírito dentro de mim mesmo quando sei que para muitos de vocês é tão fácil viver. É frustrante como conseguimos sentir o nosso fim sem que possamos fazer qualquer coisa. E a última coisa que consigo ignorar é aquilo que mais certo temos, o fim. Não vale a pena exteriorizar este pensamento a quem vê a vida como mais lhe convém e ignora a realidade como ela é, por muito que pensem que são conscientes do que é viver. Viver é sentir, sofrer, amar, sorrir, chorar, correr, dançar, caminhar, fornicar mas nunca sonhar. Mas quando se escapa a capacidade e a motivação de escalar esta montanha até ao cume, somos invadidos por fantasmas que criamos ao longo deste tempo dentro de nós. Porque nem todas as existências são sinónimo de viver, por mais triste que isso seja.
É difícil carregar o peso do mundo ás costas para quem nunca foi suficientemente forte para se aguentar a si mesmo. É preciso algo que não tenho, algo que já nem sei o que é.
E vocês, que observo nestas ruas e que se dirigem aos seus destinos, não vos desejo mais do que aquilo que merecem. Desejar é sonhar.
Levanto a cabeça para este céu incrivelmente azul e tento encontrar mais uma vez tudo aquilo que não tenho, mesmo sabendo que é apenas mais uma vez que me apercebo de como não sou nada.

3 comentários:

Anónimo disse...

eu sonho...
deve ser esse o meu mal.





olha, a mim tmb me doi o estomago.






*

Anónimo disse...

Respingos da alma ...aprecio quando as almas se desnudam ...por isso gosto de te ler e sentir as tuas palavras. Um xi bem apertadinho :)

pisconight disse...

Está muito bom (mais uma vez).
Adoro os sentimentos levados ao exteremo!!
;)