sexta-feira, maio 27, 2005

Madrugada

Acordo sempre com o mesmo som.
Sempre com a mesma respiração no meu ouvido. Mantenho-me sempre imóvel, com a cara húmida de lágrimas, encolhido, totalmente debaixo dos lençóis. Até que no quarto se sente movimento. Fecho os olhos com força e o colchão começa novamente a dar de si. Os lençóis começam a encostar-se mais ao meu corpo. Sinto as minhas costas frias, uma sensação de abraço e ouço novamente o mesmo suspiro ao meu lado.
O meu anjo da guarda chega sempre tarde demais.

domingo, maio 22, 2005

O perigo da montanha

No topo de uma montanha aparece sempre uma maior

Esta realidade assusta.
Combatemos com o que temos, sofrendo e sorrindo, chorando ou abrançando, dá-mos o nosso melhor e todo o percurso nos dá prazer, faz-nos sentir vivos. Quando atingimos o topo, tudo acaba. O percurso acaba, a adrenalina e a sensação de que vivemos a nossa vida ao máximo desaparece.
É lá em cima, deitados na pedra de uma caverna fria, completamente sozinhos, que ouvimos as tais palavras.
No topo de uma montanha aparece sempre uma maior.
A sensação de abandono e solidão consegue aumentar depois de tais palavras. Poderia tomar tudo como um desafio, como uma nova oportunidade de sentir toda a felicidade novamente. Mas eu acredito que em todas as montanhas, quando chegámos lá em cima está frio.
Tão frio que nos congelam as lágrimas e apenas conseguimos soltar pequenos gemidos que ecoam na fria caverna.
Todas as montanhas nos ferem quando atingimos o topo, quando nos julgamos no topo do mundo. E eu não sou um daqueles que continua a subir a seguinte que dizem aparecer além. Porque eu sei, que quando mais alta ela for, quanto mais alto for o cume, mais dificuldade terei em respirar. Para além da dor e do vazio, não me consigo sujeitar a chegar ao topo de outra para que a dor seja tanta que não consigue respirar.
Eu nunca subi tão alto.
Continuo dentro da caverna.
E com os meus olhos fechados subo a mesma montanha todos os dias. É o suficiente para me matar lentamente.

domingo, maio 01, 2005

Every Day Looks Exactly The Same

E se tudo o que vives fosse apenas um sonho?
E a realidade se encontre escondida na tua própria sombra?
Os teus deuses não passam de meros impostores conhecedores da verdade absoluta escondida por Aqueles Que Não Conhecemos.
As recordações estão presentes na tua memória. Para ser feliz basta formatá-la quando necessário.
O poder da mente do ser humano está limitado devido ao seu corpo. Só não evoluí mais porque não tem recursos.

Todos os seres humanos estão ligados. Tu existes de várias formas. O teu ser não é apenas unidimensional. Tu existes na mente do teu pai, da tua mãe, do teu irmão, do teu melhor amigo, do teu amigo. Existes de uma forma diferente em diferentes mentes, tens diferentes identidades em diferentes mentes.
Todos te veêm de maneira diferente. Todos te veêm a andar, com as tuas roupas, o teu olhar, as tuas costas, de uma maneira que nunca poderás conhecer. Não podes julgar que te conheces. Não sabes como as outras pessoas te podem conhecer. Já te viste passar por ti mesmo? Eles já te viram passar por eles. Eles conhecem-te de uma forma que tu nunca vais conhecer.
Para aqueles que não te conhecem, simplesmente não existes.

What if everything around you
Isn't quite as it seems?
What if all the world you think you know
Is an elaborate dream


Tudo começa quando questionas o que é ou não real. Se encontras uma ponta de verdade começas a ser observado.
Não podemos ter medo de entrar no quarto escuro nem de uma mão que nos possa agarrar. Essa mão pode salvar-nos de algo que nem em sonhos imaginamos.

E se o teu corpo não fosse preciso para viveres? Se depois de dispensares o teu corpo ficasses ocorrente de uma dimensão que existe sob a que anteriormente vivias? Começavas a viver nas sombras do mundo real. Mas qual é o real?

When you look at your reflection
Is that all you want to be?
What if you could look right through the cracks
Would you find yourself... find yourself afraid to see


De onde vieste mesmo?
Tenta entrar no teu inconsciente e surpreende-te. Passa para o outro lado. E junta-te a uma comunidade de pessoas que partilham os mesmos interesses que tu. Que estão ligadas a ti e tu a elas.
Com o tempo vais descobrindo que essa comunidade está cada vez maior, cada vez mais real... Mas como é que nunca ninguém falou nela?
É secreta. Existem partes que não precisam de ser desvendadas. Podes ter conhecimento dela até um certo ponto.
A tua vida, a tua rotina é cada vez mais monótona. E começas a reparar no que te rodeia de outra forma.
Tudo parece mais morto do que quando te ligas a ti mesmo e és quem queres ser.
O problema é que me encontrei com o meu eu que existe na mente de quem me conhece. Tive a força para os eliminar, mas no dia seguinte era um desconhecido para toda a gente.

Pela primeira vez, deus falou comigo e disse que eu era uma das suas belas criações, que lutava pela verdade. Estes assuntos assustam-me e por isso volto ao meu dia-a-dia. Dia-a-dia que cada vez mais me mostra manifestações do mundo que descobri para além do que toda a gente conhece. Mesmo as pessoas que já não existem neste mundo existem no outro. E quando todos os elementos necessários surgem, acontecem as aparições de quem já não está presente neste mundo mas continua no outro.
No mundo que eu e tu vivemos existem pessoas que estão cientes dos problemas que existem entre este e o outro mundo, e existem uns que lutam por uma união dos dois e outros que tentam impedir que toda a raça humana assista horrorizada a uma verdade que não precisa de conhecer.
Porque não precisámos de saber toda a verdade. Aqui temos algo que construímos e que vivemos. O oposto do que acontece no mundo escondido onde as coisas simplesmente são como sempre foram. Onde não existem corpos mas sim forças, não existem vozes mas sim pensamentos que se inserem automáticamente na nossa mente e respondemos sem sequer nos apercebermos disso.
O nosso corpo é apenas um holograma do nosso ser. Uma representação física.

Fiquei muito baralhado quando toda esta informação foi-me descodificada. No meu dia a dia, tudo tão normal que assustava e quando adormecia, ou acordava, mais enigmas surgiam.

What if all the world's inside of your heart
Just creations of your own
Your devils and your gods
All the living and the dead
And you really are alone


Começas a pensar para ti mesmo se o que vives agora é apenas uma continuação daquilo que vives quando te ligas a ti mesmo. Se o mundo real é uma fachada. E se tudo isto é apenas um sonho gerido por um deus? Se todas as sensações que temos acesso, se todas as cores, todos os sons que conhecemos são aperfeiçoamentos de realidades extintas por deus? E quem é deus? Quem criou deus?
Deus foi o primeiro de nós a acreditar que este mundo era uma farsa e atravessou para o outro lado definitivamente.
Da sombra, gere o nosso mundo e só é considerado um deus porque tem pessoas que o louvam. Sem crentes não existe um deus.
É um falso deus porque não criou nada. Aperfeiçoou. Aperfeiçoou aquilo que já estava criado. Deus sabe que não é o criador. Sabe que é representado como um ser superior entre nós e aproveita-se disso. Porque o lugar dele nunca foi aquele. E os seus fiéis, aqueles que espalham a sua palavra secretamente querem dominar este lado também.

Eu fui criado para cumprir um objectivo. Enfrentar deus.
Acabarei com a presença dele no outro lado quando o questionar sobre a sua existência e equilibrarei os dois mundos de forma a que um sirva para viver e outro seja o programa que é, para gerir tudo aquilo que hoje conhecemos deste lado.
Mas até lá todos podemos fazer uma visita mais aprofundada.

You can live in this illusion
You can't choose to believe
You keep looking but you can't find the words
Now you're hiding in your dreams


Todos nós estamos escondidos neste sonho.