segunda-feira, agosto 22, 2005

Quero tudo aquilo que tive

Eu queria manhãs solarengas.
Queria a frescura do acordar entre folhas verdes e um rio límpido a poucos metros de mim.
Queria sentir-me em harmonia com um pequeno grupo de pessoas. Nada mais existia.
Queria perder a noção das horas, viver sem relógio, sorrir sem sentir qualquer tipo de preconceito, viver esquecendo toda a minha dor.
Queria liberdade, queria ver o sol nascer enquanto conversava.
Queria olhares sorridentes e risos madrugada fora.
Queria observar auto-estradas aéreas e rir deitado na relva.
Queria desabafar e chorar.
Queria ver a maior e mais próxima estrela cadente de todas.
Queria sentir-me vivo num ambiente desenhado para mim por um artista desconhecido.
Queria sentir-me acarinhado.
Queria mais uma conversa sobre a minha estupidez.
Queria que me entendessem. Não que me julgassem.
Queria pagar mais um café.
Queria observar as pessoas e sorrir. Por ter sorte em as conhecer.
Queria observar todos os seus gestos que agora me deixam com saudades.
Queria música.
Queria que sentissem a música como eu.
Queria que dançassem como a minha mente dança no seu interior.
Queria ouvir a mesma música com a mesma intensidade sabendo que tenho pessoas que quero ao meu lado.
Queria ter frio e que uma caminhada até a casa de banho fosse uma aventura.
Queria olhar nos olhos das pessoas e ver vontade de viver.
Queria ver vontade de falar. Vontade de se estar.
Queria ver a vontade de que se pudessem, o sol não se erguia e viveríamos para sempre numa madrugada onde tudo seria como estaria.

Todos continuariam a conversar.
Todos continuariam a beber e a fumar.
Todos continuariam a rir e falar.
Nada mais existiria.
Todos conseguiriam ser felizes.

Não ter que contar os dias.
Não ter que me preocupar com o que dizia.
Não ter que estar seja onde for seja quando fosse.
Foi tudo o que eu sempre quis e senti quando tornaram os meus sonhos realidade.

Quero novamente aquele lugar verde.
Quero novamente aquelas pessoas que sorriam e me compreendiam.
Quero matar as saudades que agora magoam.
Por saber que tudo o que vivi terá que ser revivido vezes e vezes sem conta apenas dentro da minha mente.
Não quero este quarto velho.
Nem esta janela para o vazio.
Não quero acordar a meio da noite com uma saudade doentia.
Só quero a felicidade que nunca na minha vida exigi.

terça-feira, agosto 09, 2005

Adeus

Queria que todas estas palavras derramassem uma lágrima em sinal de respeito pelo meu vazio.
Porque eu sou o único que se sente a si mesmo.
Partiram-me a cara várias vezes. Eu suspirei e continuei.
Alimentaram-me sonhos e destroçaram-nos. Eu observava e os olhos humedeciam.
Todos os dias.
De todas as maneiras.
Com um simples olhar.
Com uma simples palavra por dizer.
Desde sempre.

Hoje acordo mais sozinho do que nunca.
E sinto a minha última oportunidade a desaparecer.
Já nem força tenho para lutar pelo que quero.
Porque depois de todo este tempo, por tudo o que um dia lutei, sempre perdi.
Porque depois de todo este tempo, tudo o que eu um dia tive, desapareceu.
Apenas o vazio aumentou.
Porque tudo o que vivi pertence a um passado que me foi roubado.

Hoje acordo com mais vontade de adormecer.
Porque é a única maneira de me esconder de mim mesmo.
Já nem força tenho para lutar pelo que sou.
Porque depois de todo este tempo, depois de tudo o que senti, o déjà vu de solidão voltou.
Porque depois de todo este tempo, depois de tudo o que vivi, apenas o vazio ficou.
E o vazio aumentou.
Porque tudo o que sou pertence a alguém que nunca serei.

Hoje acordo com vontade de morrer.
Porque é a única maneira de um dia poder viver.
Já nem força tenho… para me olhar de frente ao espelho.
Porque eu sou o único que se sente a si mesmo.