terça-feira, novembro 20, 2007

Alma

Só mais um, mas bem feito. Deixam-se as cores explodirem no céu e os corpos dormentes, por dentro fervilhem vida. Enquanto isso, soltam-se pensamentos que fazem com que outros nasçam. Gradualmente o verde da relva ganha vida até que tudo à volta viva. Até as gotas de água que tocam na pele e escorrem pelo rosto.
Porque sim. Não há qualquer tipo de agenda para que quase num toque divino os sentidos se dispertem e se dispersem. E é nesse momento que o desconhecido traz respostas, se existir a capacidade de levantar as questões. Tudo o resto são nuances.
De lado fica o convencional. Abre-se caminho para o abstracto ganhar sentido fora do contexto que fazer sentido tem. Por isso toquemos bem fundo, no canto mais escuro da mente, onde permanence uma barreira que nos obriga a reflectir verdadeiramente. No silêncio, que parece levantar todas as questões. Até as mais simples, que são as que se conseguem tornar mais complexas, não tivessemos nós a infinita capacidade de tomar tudo como garantido. Não optemos pelo egoísmo de condenar o que julgamos compreender.
Se existissem árvores, o vento quebraria este silêncio para que todas elas se tocassem, quase como sexualmente, folha a folha. E o céu mudaria de tom, do mais azul ao violeta à medida que a nossa percepção viajasse por este fluído gasoso, transparente e invisível. É nesta serenidade estranhamente estimulante que nos deixámos ser e nos unimos. De nada vale fugir á vontade pura de ser. Saudável é não prender a necessidade de encontrar o que nos inquieta.
Carinhosamente, os dedos sentem-se à distância em pequenos toques que por todo o corpo libertam uma descontracção quase eléctrica. As palavras que se tocam rebentam como bolas de sabão. Está criada a ligação, uma sensação de comunhão espiritual que nos eleva, de uma forma genuína.
E por mais comum que seja o facto de uma verdade díficil de lidar ser ofuscada por uma mentira interessante, nada apagará o que realmente é, enquanto que o último pingo de honestidade tratará de trazer o peso à consciência. Mais tarde ou mais cedo.
Que voltem penadas e arrependidas.

Por aqui, os olhares completam o que as palavras deixam por dizer enquanto que o inexplicável se expressa pela música e o silêncio.