terça-feira, junho 19, 2007

Sem título

Temos literalmente o mundo nas nossas mãos e a menos que a confusão nos domine, podemos transformar tudo o que conhecemos em tudo o que precisamos.

A adolescência definir-se-á sempre pelo seu sabor agridoce. Pela primeira vez, desde que nos lembramos de nós mesmos, os nossos sentidos desenvolvem-se a um ponto intelectualmente fatal. As angústias que possam dificultar um acordar assim como o conforto de momentos estranhamente únicos vão desenhando abstractamente o nosso ser assim como o espaço que o rodeia. Existe uma invasão pelos mais variados tipos dores ou prazeres mas a única consequência significativa é apenas a ressaca espiritual. Na pele semeiam-se beijos, toques e lágrimas, mas é na alma que reside a verdadeira essência capaz de nos guiar ou destruir.
Somos o expoente máximo da liberdade, da loucura, da apatia e da espontaneidade; A única voz que se expressa com a intensidade que vive. Que conhece as longas noites, solitárias, de corpo e alma, onde o mundo parece ter levado toda e qualquer razão para que se lide com o dia seguinte, restando apenas uma ténue linha de vida capaz de fazer desesperar qualquer um. Assim como todas as outras onde as garrafas ficaram vazias, os risos ecoavam na praia deserta, no beco escuro, na sala desarrumada, com corpos suados, colados, cansados, restando apenas maços de tabaco vazios e adrenalina, que preenchia o espaço ao ritmo da música.
Num fim de tarde, com óculos de sol postos, ou num amanhecer com cheiro a verão, no nevoeiro cerrado numa rua de uma cidade qualquer, ou na chuva que ensopa sapatilhas, escreve-se poesia numa paz de espirito que preenche o ser de liberdade. Escreve-se poesia no simples caminhar de quem à primeira vista não vai a lado nenhum, mas no entanto se sente capaz de ir até onde quiser. Escreve-se poesia até num simples olhar que parece levar nele um mar de sentimentos e vontades. A juventude é a fonte genuína do sentimento, da pureza e da vida.
Esta é a era em que a cultura é feita por nós. Nós somos a cultura. Retratamos o que é ser e sentir em todas as artes.
A adolescência definir-se-á sempre pelo seu sabor agridoce.
E o seu travo estará sempre presente, até no nosso fim.


~ peter pan

quarta-feira, junho 13, 2007

E se todas as manhãs fossem como esta?

Se todas as manhãs fossem como esta, o mundo não faria sentido.
Padres deixariam de cobiçar a pele jovem e proíbida, políticos começariam a cumprir promessas, jornais teriam conteúdo e a hipocrisia seria apenas uma simples palavra no dicionário.
Se todas as manhãs fossem como esta, o mundo, definitivamente, não faria sentido.
Transportes cumpririam horários, direitos humanos seriam tomados em conta, esmolas mudariam a vida do mendigo e até sinais vermelhos seriam respeitados.
Se todas as manhãs fossem como esta, o mundo, não faria sentido.
Porque a felicidade no seu estado puro, num perfume que invadiria toda a cidade, tornar-se-ia na coisa mais banal e tomada como garantida.
Que se celebre hoje a vida na sua infinita maneira de se viver sem que a beata nos olhe com desdém.