quinta-feira, dezembro 29, 2005

...

Este é o silêncio em que me afogo.
Em mais uma noite passada em branco.

(morri)

terça-feira, dezembro 27, 2005

This is not a happy moment

Esta é a fábrica abandonada em que tanto gosto de me imaginar.
Pertenço aos gritos, saltos, quedas e risos.
Não aqui.
Quero este universo.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Angústia

As palavras fogem da minha mente para dar lugar a mais um conflito de pensamentos que acabam sempre por me destruir mais um pouco.
Sinto-me incapaz de fazer sentido. É só mais uma vez que perdi o controlo de mim mesmo. Perdi de tal maneira que, mais uma vez, sozinho neste quarto, ouço em mim a minha voz aos gritos, enlouquecida e desesperada. Faltam lágrimas de verdade que não escorrem. Lágrimas ausentes que aumentam ainda mais a tensão pronta a explodir a qualquer momento à medida que vou gritando dentro de mim.
Mais uma vez, estou aqui, neste quarto que já me viu de tantas formas mas que apenas me conhece desta, doente dos olhos. O desespero supera-se a si mesmo e sinto-o de tal forma que a minha vontade é não me ter, mesmo que no fundo, esteja na verdade perdido. Incapaz de imaginar mais uma noite nesta situação que desgasta, destrói, me apaga e me mata e de me consciencializar de tudo o que por mim passou, sinto-me preso em mim mesmo. Perco a vontade que subitamente possa ter ganho de gritar quando me recordo que vivo rodeado de paredes surdas.
Estou sozinho.
Sinto a angústia de quem pegou num telefone e telefonou vezes sem conta à felicidade sem que uma chamada fosse atendida, fazendo que cada segundo em espera fosse uma eternidade dolorosa, até que depois de tanto desespero sentido, em mais uma vez que a mão tremendo marca os dígitos, descobrimos que desligou o telefone para não ouvir esta chamada recheada de uma amargura assustadora.
Estou tão sozinho.
Gostava que fosse um pesadelo. Mas esta sensação nunca acaba a menos que, contra a vontade, adormeça. No dia seguinte, custa o acordar de uma mente que lentamente se apercebe da situação em que vive. Este enorme peso que faz querer dormir mais um pouco. Mas esta noite não se dorme. Morre-se.
Morre-se pela vida que se perdeu, pelas palavras que nunca foram ditas que doeram tanto, pelo desespero de alguém que ficou guardado por aí.
Não me sinto são e quero gritar com todas as forças que tenho em mim até cair no chão e por fim chorar. Quero largar esta carga emocional que me prende em mim mesmo. Por tudo aquilo que fiz e não fiz. Por tudo aquilo que sou e nunca fui. Eu. Mereço o esquecimento. Tive-o. E neste momento, o mundo vive-se sem mim. Eu choro fechado em mim mesmo pelo ódio por mim. Raiva! Quero bater com a cabeça na parede até que doa demais para pensar! Quero-me fora de mim! Quero conseguir chorar!
Estou tão sozinho, que aqui sentado, sem mover o olhar sinto um turbilhão de emoções que me desgasta psicologicamente. Sinto-me cansado de mim mesmo.
Não quero mais isto! Estou neste canto, onde a música parou de embalar e o sorriso se perdeu com o tempo. Estou preso a estes dias desperdiçados na dor da solidão, do sol que teima em aparecer e fugir lentamente, como uma tortura para quem vê o tempo passar para nunca mais voltar. Perdi a vontade de viver algures. E com ela a vontade de a procurar. Não quero sentir mais um dia de novo. Apenas serve para me lembrar que não existe nada para além da existência de um corpo que se desgasta à medida que se relembra de quando tentou viver.
Estou usado. Acabado. Morto. Sinto-me dispensável de um mundo a que outrora tive direito. Hoje esse mundo virou as costas. Deixei lá tudo o que era meu e fiquei aqui, fechado, num destino que alguém, mesmo gostando de pensar que não, me ofereceu. Sou mais um adolescente que pensa que lhe acabou a vida na angústia do que é viver.
Não… Não sou. Eu fui alguém. E hoje, sou o primeiro louco a saber que perdeu a sanidade.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Guardei-me na gaveta para nunca mais sair

Quero desaparecer.
Sentir a minha existência dispersar-se no ar para me libertar de mim mesmo, perder esta alma suja e gasta, que chora e dói a cada momento que me procuro em mim mesmo. Quero parar de me consumir a mim mesmo porque me acabei e enlouqueci. Silenciar os pequenos murmúrios que me amarguram nesta serenidade que mata.
Sou um fio de fumo, leve e suave, de um cigarro que se acabou e se espalhou.
Perdi-me.
Quero-me drogar. Para nunca mais pensar, sentir ou viver. Não me quero! Quero fugir deste mundo que nada me traz a não ser a dor de ser quem sou. Quero cair e adormecer. Não para sonhar mas para me apagar. Quero parar esta lamentação.
Gritar. Partir. Alucinado.
Não tenho vida.
Dói. Pesa-me.
Quero vomitar. Cuspir esta bola de emoções que matam. Quero-me vomitar.
Não quero nada.
Eu nunca quis nada.

domingo, dezembro 11, 2005

Capitão Romance

Não vou procurar quem espero:
Se o que eu quero é navegar!
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar.

Parto rumo à primavera,
Que em meu fundo se escondeu!
Esqueço tudo do que eu sou capaz:
Hoje o mar sou eu...

Esperam-me ondas que persistem,
Nunca param de bater!
Esperam-me homens que desistem,
Antes de morrer!

Por querer mais do que a vida,
Sou a sombra do que eu sou.
E ao fim não toquei em nada,
Do que em mim tocou.

Eu vi,
Mas não agarrei...

Parto rumo à maravilha,
Rumo à dor que houver pra vir.
Se eu encontrar uma ilha,
Paro pra sentir!

Dar sentido à viagem,
Pra sentir que eu sou capaz!
Se o meu peito diz coragem,
Volto a partir em paz.

Eu vi,
Mas não agarrei...

quinta-feira, dezembro 08, 2005

O sonho quebrado

Parte-se todos os dias à medida que a realidade me rodeia.
Sem qualquer tipo de ruído que possa incomodar quem me cerca ou quem penso me seguram do buraco que me conduz à perdição absoluta. Talvez seja por isso que ninguém repare. Porque os olhos continuam a pestanejar, as pernas a caminhar, as palavras a serem ditas e os cigarros a serem fumados. Mas tudo isso já não é feito com vontade, ou nem tanta como possam pensar.
A vida desaparece e dá lugar à simples continuidade do tempo. A paixão de viver foge e com ela tudo em mim permanece dolorosamente inalcançável.
Se calhar penso muito que não tem razão de ser. Mas não há nada que impeça alguém de o fazer. Talvez inteligência e um pouco de optimismo. E para isso preciso de me refazer do principio e esquecer a infinidade de mim mesmo em que me perco.
É uma doença que me consome silenciosamente. Como um veneno, um perfume inalado que rouba as certezas. E quando não há mais nada para roubar. Caio e descanso.
Quando não há mais nada para roubar, quando até o conforto foi levado, caio e morro só mais desta vez.
Cá no fundo dói.
Dói o coração.




Ninguém lê as entrelinhas.
Ninguém ouve.