quinta-feira, dezembro 29, 2005

...

Este é o silêncio em que me afogo.
Em mais uma noite passada em branco.

(morri)

terça-feira, dezembro 27, 2005

This is not a happy moment

Esta é a fábrica abandonada em que tanto gosto de me imaginar.
Pertenço aos gritos, saltos, quedas e risos.
Não aqui.
Quero este universo.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Angústia

As palavras fogem da minha mente para dar lugar a mais um conflito de pensamentos que acabam sempre por me destruir mais um pouco.
Sinto-me incapaz de fazer sentido. É só mais uma vez que perdi o controlo de mim mesmo. Perdi de tal maneira que, mais uma vez, sozinho neste quarto, ouço em mim a minha voz aos gritos, enlouquecida e desesperada. Faltam lágrimas de verdade que não escorrem. Lágrimas ausentes que aumentam ainda mais a tensão pronta a explodir a qualquer momento à medida que vou gritando dentro de mim.
Mais uma vez, estou aqui, neste quarto que já me viu de tantas formas mas que apenas me conhece desta, doente dos olhos. O desespero supera-se a si mesmo e sinto-o de tal forma que a minha vontade é não me ter, mesmo que no fundo, esteja na verdade perdido. Incapaz de imaginar mais uma noite nesta situação que desgasta, destrói, me apaga e me mata e de me consciencializar de tudo o que por mim passou, sinto-me preso em mim mesmo. Perco a vontade que subitamente possa ter ganho de gritar quando me recordo que vivo rodeado de paredes surdas.
Estou sozinho.
Sinto a angústia de quem pegou num telefone e telefonou vezes sem conta à felicidade sem que uma chamada fosse atendida, fazendo que cada segundo em espera fosse uma eternidade dolorosa, até que depois de tanto desespero sentido, em mais uma vez que a mão tremendo marca os dígitos, descobrimos que desligou o telefone para não ouvir esta chamada recheada de uma amargura assustadora.
Estou tão sozinho.
Gostava que fosse um pesadelo. Mas esta sensação nunca acaba a menos que, contra a vontade, adormeça. No dia seguinte, custa o acordar de uma mente que lentamente se apercebe da situação em que vive. Este enorme peso que faz querer dormir mais um pouco. Mas esta noite não se dorme. Morre-se.
Morre-se pela vida que se perdeu, pelas palavras que nunca foram ditas que doeram tanto, pelo desespero de alguém que ficou guardado por aí.
Não me sinto são e quero gritar com todas as forças que tenho em mim até cair no chão e por fim chorar. Quero largar esta carga emocional que me prende em mim mesmo. Por tudo aquilo que fiz e não fiz. Por tudo aquilo que sou e nunca fui. Eu. Mereço o esquecimento. Tive-o. E neste momento, o mundo vive-se sem mim. Eu choro fechado em mim mesmo pelo ódio por mim. Raiva! Quero bater com a cabeça na parede até que doa demais para pensar! Quero-me fora de mim! Quero conseguir chorar!
Estou tão sozinho, que aqui sentado, sem mover o olhar sinto um turbilhão de emoções que me desgasta psicologicamente. Sinto-me cansado de mim mesmo.
Não quero mais isto! Estou neste canto, onde a música parou de embalar e o sorriso se perdeu com o tempo. Estou preso a estes dias desperdiçados na dor da solidão, do sol que teima em aparecer e fugir lentamente, como uma tortura para quem vê o tempo passar para nunca mais voltar. Perdi a vontade de viver algures. E com ela a vontade de a procurar. Não quero sentir mais um dia de novo. Apenas serve para me lembrar que não existe nada para além da existência de um corpo que se desgasta à medida que se relembra de quando tentou viver.
Estou usado. Acabado. Morto. Sinto-me dispensável de um mundo a que outrora tive direito. Hoje esse mundo virou as costas. Deixei lá tudo o que era meu e fiquei aqui, fechado, num destino que alguém, mesmo gostando de pensar que não, me ofereceu. Sou mais um adolescente que pensa que lhe acabou a vida na angústia do que é viver.
Não… Não sou. Eu fui alguém. E hoje, sou o primeiro louco a saber que perdeu a sanidade.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Guardei-me na gaveta para nunca mais sair

Quero desaparecer.
Sentir a minha existência dispersar-se no ar para me libertar de mim mesmo, perder esta alma suja e gasta, que chora e dói a cada momento que me procuro em mim mesmo. Quero parar de me consumir a mim mesmo porque me acabei e enlouqueci. Silenciar os pequenos murmúrios que me amarguram nesta serenidade que mata.
Sou um fio de fumo, leve e suave, de um cigarro que se acabou e se espalhou.
Perdi-me.
Quero-me drogar. Para nunca mais pensar, sentir ou viver. Não me quero! Quero fugir deste mundo que nada me traz a não ser a dor de ser quem sou. Quero cair e adormecer. Não para sonhar mas para me apagar. Quero parar esta lamentação.
Gritar. Partir. Alucinado.
Não tenho vida.
Dói. Pesa-me.
Quero vomitar. Cuspir esta bola de emoções que matam. Quero-me vomitar.
Não quero nada.
Eu nunca quis nada.

domingo, dezembro 11, 2005

Capitão Romance

Não vou procurar quem espero:
Se o que eu quero é navegar!
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar.

Parto rumo à primavera,
Que em meu fundo se escondeu!
Esqueço tudo do que eu sou capaz:
Hoje o mar sou eu...

Esperam-me ondas que persistem,
Nunca param de bater!
Esperam-me homens que desistem,
Antes de morrer!

Por querer mais do que a vida,
Sou a sombra do que eu sou.
E ao fim não toquei em nada,
Do que em mim tocou.

Eu vi,
Mas não agarrei...

Parto rumo à maravilha,
Rumo à dor que houver pra vir.
Se eu encontrar uma ilha,
Paro pra sentir!

Dar sentido à viagem,
Pra sentir que eu sou capaz!
Se o meu peito diz coragem,
Volto a partir em paz.

Eu vi,
Mas não agarrei...

quinta-feira, dezembro 08, 2005

O sonho quebrado

Parte-se todos os dias à medida que a realidade me rodeia.
Sem qualquer tipo de ruído que possa incomodar quem me cerca ou quem penso me seguram do buraco que me conduz à perdição absoluta. Talvez seja por isso que ninguém repare. Porque os olhos continuam a pestanejar, as pernas a caminhar, as palavras a serem ditas e os cigarros a serem fumados. Mas tudo isso já não é feito com vontade, ou nem tanta como possam pensar.
A vida desaparece e dá lugar à simples continuidade do tempo. A paixão de viver foge e com ela tudo em mim permanece dolorosamente inalcançável.
Se calhar penso muito que não tem razão de ser. Mas não há nada que impeça alguém de o fazer. Talvez inteligência e um pouco de optimismo. E para isso preciso de me refazer do principio e esquecer a infinidade de mim mesmo em que me perco.
É uma doença que me consome silenciosamente. Como um veneno, um perfume inalado que rouba as certezas. E quando não há mais nada para roubar. Caio e descanso.
Quando não há mais nada para roubar, quando até o conforto foi levado, caio e morro só mais desta vez.
Cá no fundo dói.
Dói o coração.




Ninguém lê as entrelinhas.
Ninguém ouve.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Aqui dentro não existe nada

Já nada me sustenta ou alenta a não ser o vazio que me preenche dele mesmo.
Estas palavras que escrevo, que aos poucos vão criando estas pequenas frases, são os olhos de quem não se encontra, que quem em si se perdeu. Os olhos que numa angústia tão calma e ao mesmo tempo tão cruel, procuram o que nunca encontram. Nas minhas palavras e nos meus gestos, nos meus murmúrios e nos meus olhares está presente um turbilhão de emoções que se libertam numa tranquilidade inquietante, numa calma que dói demais.
Se encosto a cabeça para trás, nesta parede fria e me tento sentir a mim mesmo, não encontro nada a não ser uma respiração calma e um pensamento adormecido, que ao acordar apercebe-se do vazio que existe, da dor que cresce à medida que me apercebo do que não sou ou de quem sou.
Sinto o mundo a girar e consigo imaginar tudo à minha volta a viver. É como se conseguisse visualizar as pessoas apressadas na correria do dia-a-dia, como se conseguisse ver o sol, ouvir o ambiente diurno de uma cidade, o vento que percorre as folhas de uma árvore e até o chilrear de um pássaro. Ou então noutra zona do globo, sentir uma noite fria, chuvosa, observando as luzes das cidades que iluminam as ruas alcatroadas àquela hora abandonadas. Imagino as pessoas a sorrir e a chorar, a pensar ou mesmo a dormir. Até uma simples espera por um autocarro. É como se conseguisse visualizar tudo, imaginar tudo isso acontecer à minha volta enquanto sinto a lenta rotação do nosso planeta.
Aqui dentro não existe nada. Apenas o tempo que passa e não volta mais. Julgo-me doido pela consciência que tenho e por nada conseguir mudar, talvez seja esta a maneira que vidas como a minha funcionam. E julgo-me louco por me sentir tão sozinho, num mundo de gente que não conheço, mas que sinto que já os conheci a todos.
Já deixei passar muitos anos sem saber o que fazer, mas é nestes momentos em que me apercebo que não sei o que quero, ou então não quero nada. Não sei o que faço aqui. Só me perco mais um pouco quando aqui sozinho, entre um silêncio incómodo, me apercebo de uma angústia que cresce à medida que o meu pensamento se explora. Se um dia me olharam nos olhos desviaram a tempo para se aperceberem de tudo aquilo que ninguém desconfia.
Como já disse, aqui dentro, não existe nada.

domingo, novembro 13, 2005

não é nada

Nestas palavras encontra-se uma lágrima salgada, que entre um rosto que estremecia de emoção se perdeu. É só.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Viver um poema

Numa noite de Inverno abro portas ao meu inconsciente e aos seus desejos.
Nele encontro toda a vontade de viver nos locais que não conheço, mas que visito todas as vezes que meus olhos descansam. Locais enevoados, sombrios, que escondem o conforto que não encontro, teimam em aparecer dentro de mim, como se a aventura fosse minha amiga e por mim chamasse.
Neste quarto, enquanto a névoa que lá fora se formou entre os pinheiros vistos desta janela, viajo mais uma vez por locais surpreendentemente meus. Caminho entre o silêncio da noite e a beleza tristonha da solidão.
Onde a melancolia traz o conforto que mais nenhum prazer é capaz. Nessas noites silenciosas e tristes, vivem-se poemas, admirando o nevoeiro que me cerca e as luzes amareladas das ruas que não conseguem chegar ás pequenas quelhas. O silêncio diz tanto que não existe palavra que diga o que ele diz. E nele está o chamamento, o sentimento, que por mim chama, a vontade, o desejo, de morrer para a chamada vida e viver para o que ninguém entende.
Caminhar na calçada da noite, abraçando a bruma, sentindo o seu sabor. Saborear a vida que ninguém vive, provar o desejo que me consome pelo tempo que teima em passar, sabendo que morro um pouco mais todos os dias.
E saber que aqui morro, enquanto que no local que o sono traz vivo, apago-me mais um pouco. E ela por mim mais uma vez chama, a aventura de por este quarto sair, sem destino ou rumo pensado. Desejando somente o conforto que existe nos momentos em que todos se afastam, abrindo o caminho para uma liberdade surreal.
Murmuram-se mais umas palavras, num sorriso que se esconde no frio que se sente. E caminha-se na rua escura que tanto me diz, de cigarro aceso procurando aquilo que ainda não encontrei. Visito ruas que nunca conheci cruzando-me com quem procura o mesmo que eu. Talvez um dia viajemos para toda a parte, no conforto que procurámos no vazio. E tropecemos, rindo, em estações de comboio pela madrugada, visitando mais uma cidade deserta que abençoa o que em nós existe, mesmo que seja um vazio existencial.
Entretanto, neste sonho, deito-me em bancos de jardim enquanto os carros ao longe passam e as estrelas lentamente o céu rasgam. Sento-me em passeios e observo tudo aquilo que sempre quis.
Nessas noites sombrias, nesse silêncio que tanto diz, vive-se o poema que hoje escrevo.

quinta-feira, outubro 20, 2005

The untold story

Tenho saudades dos tempos que passaram.
Além de ter vivido de uma forma pouco ortodoxa, para não dizer que passava os meus dias odiando tudo em meu redor, quando penso em tudo o que era (ou não era) sou invadido por uma tristeza criada pelo tempo. Sinto uma nostalgia capaz de me fazer acreditar que recuei no tempo, talvez pela vontade de voltar atrás, e a única maneira de descobrir que vivo num tempo diferente é levantar a cabeça da almofada e lembrar-me de quem eu sou hoje.
No passado sentia uma espécie de conforto na melancolia que me preenchia, capaz de me fazer sobreviver até o dia seguinte, talvez porque através dessa melancolia criava-se um pequeno canto só meu, que me fazia resistir perante tudo aquilo que observava à minha volta. Nesse tempo estava afastado de tudo e de todos, ninguém se sentia capaz de beijar ou amar, mas existia quem me compreendia, talvez vendo-me como uma pessoa que nunca cheguei a ser. Ofereciam palavras de conforto ou de coragem e o tempo ia passando. Hoje que recuo no tempo, vejo que ainda era bastante ingénuo, muito puro e natural, talvez derivasse daí a companhia que sentia e a minha revolta sobre todos os assuntos que me perturbavam capazes de me confortar no meu dia a dia que era um completo desperdício de tempo.
Sinto saudades da ingenuidade que não sei como, perdi. Porque hoje sou apenas mais um corpo com opiniões, ideias e sentimentos que todos já sabem, já viram e já viveram. Sinto-me fora de tempo. Como uma música que aos poucos foi perdendo a emoção de quem a ouve, porque o músico perdeu-se entre as notas e apenas continua porque não sabe o que fazer.
Gostava de me sentir num mundo só meu, mas hoje sinto-me tão velho que já não encontro a minha juventude. Não sinto ao ponto de me refugiar em recordações de tempos que hoje são capazes de assombrar o futuro. Tempos que quando vividos não era dado o seu devido valor. Porque hoje que olho para trás, mesmo que se pensava não viver, estava-se a viver uma vida diferente das outras. Hoje, já não existe chama.
Lamento, com um olhar fixo no chão, ao me aperceber que já não escrevo sobre o meu lado efeminado, sobre as conclusões que o meu olhar retira do mundo que me rodeia, sobre as músicas que têm vindo a ser ouvidas neste quarto. Porque agora também já não existe ninguém para me ouvir, todas as pessoas foram embora, seguiram o seu rumo. Estou mais sozinho do que um dia possa ter pensado que pudesse estar, porque já muito por mim passou e nada permaneceu. Tudo cresceu e floriu enquanto que eu sentei e morri. Não sou metade do que era.
Já não sei quem sou, que faço ou pretendo. É o que mais magoa. Não sei o que é feito de mim, porque me perdi no tempo que por mim passou. Apaguei a minha própria existência e tudo o que resta de mim, encontra-se espalhado no passado.
Destruí tudo o que um dia fui ou estava a construir, a pessoa dentro de mim fugiu e com ela toda a emoção de viver. Destruí toda a minha percepção e capacidade de avaliar o mundo, toda a minha empatia, toda a minha mente desperta e passivamente rebelde, desapareceu, morreu, esvaneceu.
E como tudo em mim que morreu, morri também para quem outrora fui alguém, mesmo qualquer pessoa que pouco me conhecia mas me achava merecedor de um sorriso. Tudo fugiu, que a cumplicidade criada, o conforto que era sentido, as palavras que eram dirigidas, os sentimentos que por todos eram partilhados, aquele mundo que se criou num pequeno grupo, parece uma realidade que nunca existiu a não ser num sonho distante.
O meu cabelo loiro cresceu pelo ombro, o rosto desenvolveu e emagreceu, fazendo com que a pele juvenil agora se maltrate com barba e os poros estejam imunes da pureza outrora característica. O olhar tornou-se mais distante e o sorriso foi desaparecendo entre a leve cortina que o tempo fechou. Hoje sou quem um dia nunca pensei a vir a ser, e por isso, lamento e morro mais uma vez.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Walking cliché

Gostava de ser poeta para mentir por um pouco. Mas sinto, demais.
Já não me recordo do dia em que me lembrei de mim mesmo pela primeira vez. Gostava de nascer novamente para reaprender todas as pequenas coisas da vida.
Gostava de sonhar em viver um sonho novamente, algo que me libertasse e me desse a força para viver o que pretendia. Mas neste mundo em que vivo, os sonhos chamam-se ilusões e as ilusões são para quem as quer. Mantenho-me fiel à realidade e procuro magia numa rua deserta e escura. Que me chame e me dê o conforto de uma maneira que nada mais me possa dar. Procuro magia em noites sossegadas, numa cidade de pedra ainda por descobrir, recheada de pequenas quelhas antigas e candeeiros de petróleo.
Tudo o que se possa viver num mundo que é vivido pelas pessoas que na rua passam, nada mais passa de uma ilusão, de uma complexa mistura de sonhos pessoais que se enredam e se quebram. Talvez seja por isso que todos sejam tão cruéis, pelos múltiplos sonhos que já perderam. Talvez seja por isso que todos se vistam de cinzento, pela dor que já sentiram. Talvez.
Já não chega acordar e sentir um dia solarengo, porque será um igual a todos os outros. E à medida que cada dia chega, apenas consegue trazer a dor do dia anterior. Já aprendi todas as pequenas coisas que me deviam encantar por pertencer a este mundo, mas tudo o que sinto é um vazio por saber que não há nada que não mude. Todas as memórias que possa ter tido da infância transformam-se hoje em cinza de um passado ingénuo. Desde que aprendi que o coração serve para bombear sangue, nada me fascina. Ou até que o sol e a lua não são namorados mas estrelas e satélites, que os desejos são apenas ambições e a nossa vida afinal não é o que esperávamos, nada mais me fascina.
Todas as memórias me trazem a vontade de não ser, querer, ter e crer.
Por isso procuro algo por encontrar, apenas eu e todos aqueles que me procuram, sem destino ou vontade de voltar a ser o que não eram. Com o simples conforto em viver nas noites que ninguém entende, nos locais que durante o dia dormem e durante a noite, com o seu nevoeiro que se perde na escuridão, transmitem a magia que ninguém sentiu.
Porque tudo o resto é uma ilusão sem fim.
Mas se encontrar o que ainda não conheço, completará o vazio que sou.

terça-feira, outubro 11, 2005

Smells the taste of all we waste

From rape to right in, too real to live
should I lie down or stand up
And walk around again?
My eyes finally wide open up
My eyes finally wide open shut
I finally found the sound
That heals the touch of my tears
Smells the taste of all we waste
Could feed the others
But we smother each other
With the nectar and pucker the sour
Of bittersweet weather
It blows through our trees
Swims through our seas
Flies through the last gasp we left on this earth

It's a long lonely journey from death to birth

Should I die again?
Should I die around the pounds of matter wailing through space?
I know I'll never know until I come face to face
With my own cold, dead face
with my own wooden case

Estou farto de me repetir.
Como se as minhas palavras não tivessem significado. Como se fossem apenas murmúrios que o vento leva enquanto caminho. Meras palavras sem valor.
Sinto-me um peão mas dentro de mim existo. Sei que não me ouvem e que não me vêem e que apenas eu me conheço e sinto. É a única certeza que tenho, mesmo que não me agrade. Sei que poderia dizer e fazer muita coisa, mas à primeira vista nada teria significado ou então seria entendido da forma que cada um pretende entender. Porque toda a vida foi assim.
Tudo se agrava sem razão aparente. Sente-se apenas um crescendo de emoções tão intensas que chegam a sufocar. Emoções que me rasgam por dentro, que me consomem dia e noite mesmo quando parecem prestes a adormecer. A apatia é quebrada por uma onda de sentimentos que me afoga diariamente e me ameaça implodir. Até conforto apático me escapa.
Restam pequenos murmúrios que revelam a dor de uma criatura que já não vive. Murmúrios que se tornaram tão comuns que hoje são tomados como apenas simples murmúrios. Quando são tudo aquilo que sou e sinto. Quando são a mágoa e a apatia. Por tudo aquilo que meus olhos assistiram e que meu ser sentiu. Por uma voz que se silenciou, um olhar que morreu, um sorriso que desapareceu, uma vida que se perdeu.
Desde que perdi a inocência até hoje, fui perdendo tudo.
Tudo esvaneceu e doeu. Ainda dói quando nos apercebemos disso. Quando reparamos no que tivemos. Do ser que fomos e (não) somos. Das vezes que dissemos que não podia piorar mais. Mas existe sempre mais uma maneira.
E resta também a solidão. Presente nas pequenas pedras da calçada numa noite chuvosa, nas folhas que o vento nas árvores agita. Presente numa cidade cinzenta que tanto confortava como magoava. Resta a solidão que me envolve, que numa noite chuvosa naquele lugar mágico, mantinha-me imóvel, por choque ou pânico do que me apercebia naquele momento que já nem me confortava. Numa vontade de abandonar tudo o que conheço, sinto-me preso naqueles longos segundos, o cigarro sozinho se vai queimando e com o olhar morto no chão o peso no peito aumenta à medida que a chuva cai. Por tudo aquilo que não somos e não temos.
Como um amigo meu gostava de me cantar, a vida é sempre a perder.

terça-feira, outubro 04, 2005

Doce, suave e inocente

E mais um longo suspiro é interrompido por uma voz.
Doce, suave e inocente.
Como um feitiço para os meus ouvidos que desde sempre ansiaram por uma voz que me diga a mais simples das frases. Que me confesse todos os seus enigmas. Que apenas me peça compreensão.
Dois corpos deitados no chão, numa noite em que as ruas tristes da cidade se envolveram num nevoeiro sombrio, criam uma ligação, em pleno silêncio. Nada no mundo existe a não ser aquele momento que será lembrado como o momento que duas pessoas sentiram uma liberdade única.
Porque tudo o resto parou de existir e apenas aquele espaço é real.
Onde existem dois corpos que fixam o olhar no céu estrelado, numa busca por uma liberdade incompreensível.
Apenas uma busca pela liberdade extrema, presente em momentos tão simples mas os únicos em que a liberdade é tanta nos invade. Sem qualquer tipo de tempo para pensar no que aconteceu no passado ou no que fazer de seguida. Um momento único que aliena tudo o resto e apenas permanece a fantasia que as duas pessoas presenciam e em que vivem.
Não crescem sorrisos, somente uma bolha de conforto dentro dos dois.
Porque ambos querem vida.
Sejam deitados numa madrugada em plena praça deserta.
Sentados na margem do rio numa floresta durante a noite.
Caminhando sem rumo nas ruas estreitas de uma cidade desconhecida.
Dormindo em estações de comboio sem ter que apanhar seja que comboio for.
São momentos para aqueles que procuram algo por encontrar.
São momentos que poucos entendem.
São momentos a que nunca tivemos direito.
Onde a apatia dança à nossa volta.
Onde o nosso ser se sente completo.
Por sabermos que presenciámos algo único.
Onde uma liberdade juvenil é vivida sem limites abençoando tudo aquilo que somos.

domingo, setembro 25, 2005

E para além da solidão...

Não entendo porque continuo a acordar para sentir o meu tempo a passar como sinto.
Não existe qualquer tipo de razão para que queira acordar para sentir um misto de sensações que se resumem a um completo isolamento dentro de mim mesmo. Porque existe um fio de raciocínio que teima em me atormentar, como se me sussurrasse, que perdi um pedaço de mim. Um pedaço que guardara todas as minhas certezas, todos os meus sonhos, toda a minha vontade de viver. Um pedaço existencial que deixou espaço para que todas as minhas incertezas, todos os meus medos e desassossegos, toda a minha veia de apatia, se alimentassem de mim mesmo.
Vivo os meus medos em silêncio, num sossego penoso que corrói cada vez mais quem se encontra isolado de um mundo que não lhe diz nada.
Vivo a minha dor numa paz insuportável que depois de sentida e intimamente chorada, se transforma na apatia que me faz vaguear com um olhar morto.
Entre um cigarro e outro, sentado num passeio, queima-se o tempo que vemos passar por nós, enquanto que nós, apenas observámos tudo aquilo que mais ninguém tem tempo de observar. Porque nestes momentos dispensam-se sorrisos, dispensam-se choros, dispensa-se qualquer tipo de emoção. Permanece apenas um ser destruído pelo passado que o vive sempre que ouve o seu pensamento.
Um ser que hoje nada tem a oferecer a não ser palavras que a si mesmo as sussurra. Alguém que toda a gente olha mas que ninguém vê. Enquanto o meu olhar se prende no vazio, confesso a mim mesmo que me perdi.
Além da solidão, existe algo em mim que não encontro e dói.
Nem mesmo no meu período de sono encontro a serenidade que procuro. Porque é nesse momento em que me visitam todas as pessoas que já se afastaram de mim. Algumas que partiram porque não aguentavam mais um suspiro, outras porque estava na vontade delas partirem. Visito lugares que nunca conheci e escuto esta mesma melodia de fundo enquanto me confessam memórias escondidas no meu subconsciente.

Essa é uma das primeiras memórias tuas que tenho.
Os nossos olhares que mal se cruzavam (por passarem tempo demais pousados no chão), as poucas palavras e os pequenos sorrisos que tanto me faziam corar...tudo isso era bom e doloroso ao mesmo tempo, porque parecia sempre presente o "e se...?".Mas quando as nossas mãos se encontraram, tudo fez sentido. Era aquilo. Amor, finalmente. Horas a fio em que as nossas mãos brincavam uma com a outra. Os arrepios e os sorrisos que o encontro das nossas mãos nos traziam.Os arrepios e sorrisos que as nossas mãos unidas ainda nos trazem, tanto tempo depois. E as palavras que guardamos nas nossas mãos, são tantas...Não sei se sabes, mas quando sinto o mundo a cair-me em cima, quando acho que tudo está errado, quando me sinto um erro...basta dar-mos as mãos e fugir-mos juntos, sem ninguém saber.


É só mais uma razão, para quando acordar, sentir o vazio crescer em mim por tudo aquilo que me foi roubado, por tudo aquilo que tive e fui que me foi levado por um beijo que ouvi.
É só mais uma razão, para quando esteja em mais uma noite sem dormir, observando pela janela o nevoeiro de uma manhã que começa a surgir, sentir que estou mais sozinho do que alguma vez possa ter imaginado.
E para além da solidão, existe algo em mim que não encontro e dói.

quinta-feira, setembro 22, 2005

I'd be easy

I have a car waiting and I want you to come with me.
You have to come, now.
You can go, you can get out of here.
No one’s here, you can go…
I’d be easy…
If you stay here you’re just gonna…

Quero uma Kim Gordon na minha vida.

domingo, setembro 18, 2005

It's a long lonely...

Só mais uma madrugada que ouvi o Blake cantar enquanto eu fumava e murmurava com os lábios o choro que ouvia.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Sem título

Sinto-me traído.
Estou deitado novamente e apenas ouço a minha frágil respiração. O meu quarto é tudo o que conheço desde à alguns meses e memórias são tudo o que faz parte do meu dia a dia.
Sinto o coração tão pesado que chega a doer, alguém está a sorrir.
O vazio no peito aumenta de tal maneira que este momento parece uma eternidade. No entanto, nenhuma lágrima se solta. A dor é intensa demais para se drenar.
Pertenço a uma realidade que um dia julguei impossível.
Apenas existo eu, um corpo com o olhar morto entre estas quatro paredes, com o cabelo sujo que me cai pelo rosto e nada se move. Silêncio absoluto e uma dor inexplicável por palavras.
Um aperto, pela vida que lá fora se vive e que me abandonou.
Um desespero, pela sensação de abandono que aumenta no vazio infinito que me encontro.
Como se tivesse acabado de acordar de um sonho que durou bastante tempo, agora volto à realidade que além de dura é injusta. Quando tudo o que sobra são apenas memórias de sorrisos e momentos que hoje são impossíveis de reviver com quem quer que seja.
Desde que me lembro de mim até hoje, só me tenho a mim mesmo neste preciso momento. Todos se afastaram. Não existe ninguém. Ninguém que venha ter comigo para colocar o cabelo atrás da orelha e passar a mão na pele áspera. Porque todos têm uma vida e eu tenho somente memórias.
Eu sou sempre o único que continua a escrever sobre como é viver no vazio mais doloroso e incompreensível para quem neste momento tenha uma vida. Todas as verdades que um dia me foram apresentadas como tais, hoje são quebradas e invertidas. Desde sempre foi assim, com qualquer pessoa, em qualquer situação.
E o que me possa fazer pensar que um dia tudo muda pode muito bem no futuro colocar-me numa situação semelhante a esta. Não iria ser a primeira vez.
Porque posso dizer que já vi muito, mas todos que me conheceram sabem que nunca fui nada.
Não preciso que ninguém entre por este quarto e me diga como me entende. Só quero que me observem e saibam como eu realmente sou enquanto fixo o meu olhar nos olhos de quem me observa.
Sem amor, sem ódio.
Apenas alguém que já desistiu de viver à algum tempo.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Apatia

Estávamos os dois sentados no sofá, de pijama vestido, a olhar para o local da estante onde falta a televisão que ainda não comprámos.
Não pronunciávamos uma palavra e apenas se ouvia a chuva cair no telhado. O olhar não se desviava da parede. O colchão, sem cama, no chão do quarto, tinha como sempre os lençóis por fazer e havia um monte de roupa suja no chão. Levantei-me e fui até a janela de madeira do nosso quarto. Conseguia ver a névoa que a chuva formava ao longe. Mesmo ali ao lado, a água morta do rio era castigada pela água da chuva levando com ela todos os desejos que um dia pedi a olhar para aquela água serena. A erva por outro lado ganhava um verde mais carregado, contrastando com a enorme névoa cinzenta no céu. Os carvalhos e pinheiros sentiam as suas folhas choramingarem pequenas lágrimas mas não havia sinal do vento, apenas a chuva levemente fazia-se ouvir dentro de casa. Da outra divisão consegui ouvir o teu longo e sentido suspiro e baixei o olhar ao nível dos meus pés descalços.
Dirigi-me ao quarto de banho. Quando lá entrei afastei a cortina do chuveiro e liguei a água quente. Em poucos segundos o vapor de água quente invadiu o tecto. Lentamente fui tirando as calças e a camisa do meu pijama com riscas vermelhas e cinzentas e nu entrei no chuveiro.
Enquanto a água quente que me caía directamente na cabeça e escorregava pelas costas me relaxava os músculos, mantinha o olhar cabisbaixo e o pensamento num lugar até por mim desconhecido.
Foi então que a cortina do chuveiro aos poucos se foi abrindo novamente e do outro lado estavas tu nua. Sem desviares o olhar do meu, entraste no chuveiro e ali ficámos os dois debaixo do jacto de água quente olhando um para o outro. O teu olhar, assim como o meu, foi ficando cada vez mais triste e começaram a formar-se as primeiras lágrimas por escorregar. Colocámos os braços em torno dos nossos corpos e com a tua cabeça no meu ombro senti o teu choro enquanto também eu, entre o teu cabelo molhado, soltei as minhas lágrimas silenciosamente.
Enquanto a água que nos aquecia caía pelos nossos corpos e após um ou dois suspiros, ainda com lágrimas escorregando pela face, esboçamos pequenos e inocentes sorrisos.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Um dia gritarei

A música é sempre a mesma e as noites todas iguais. A guitarra continua a gemer e a melodia a lamentar.
Ainda não se perdeu o medo de olhar pela janela em plena madrugada e ver a poucos metros a linha que determina a escuridão da luz amarelada de um poste que o chão ilumina. A rua onde acaba a estrada que dá lugar à floresta que ninguém se atreve a entrar em plena noite.
Onde apenas os pinheiros altos se agitam levemente num céu estrelado e o silêncio de um cemitério é quebrado por pequenos sussurros vindos da escuridão.
Ainda não se perdeu o medo de olhar pela janela e ver um corpo saindo da escuridão, lentamente, rastejando pela velha rua.
É em plena madrugada que as nossas dores acordam. Perante o mundo que por umas horas parou. Não são levantadas questões nem procuradas soluções. São sentidas apenas as dores que a vida nos trouxe. Da felicidade que nos levou, das desilusões que nos causou, de todas as esperanças que nos roubou.
Procurámos conforto numa noite fria, revivendo vezes sem conta segundos, que ao longo de todo este tempo, nossos olhos fotografaram.
Visitámos lugares que nunca tivemos o direito de conhecer e viajámos sem destino dentro da nossa mente. Escreve-se um livro de emoções na mente de quem muito já viveu entre os lugares que pela mente visitou.
Todos julgam ter a noção que ninguém tem sobre quem ama as madrugadas e nada tem a perder. De quem procura algo por encontrar e apenas consegue viver nas bonitas madrugadas solitárias. De quem sonha em fazer amor com uma cidade húmida e deserta, que a qualquer hora nos espera. De quem com barba por fazer, cabelo por lavar, camisolas velhas e calças rasgadas, sente-se no desejo de sair e nunca mais voltar. De quem deseja olhar pela janela, observar um grupo de pessoas que lá fora nos olham fixamente e desejam fugir para um local diferente todas as noites.
Mas ninguém vem. Apenas a dor acorda.
Voltam as memórias de uma vida despedaçada. De uma vida que nos roubou a própria emoção de viver. Quando apenas restam lágrimas parar escorregar na pele mal tratada.
Quando o dia chegar e todo o mundo acordar, nasce mais uma mentira. Aparece novamente uma realidade sem qualquer tipo de sabor.
Nesta madrugada como todas as outras, vive-se morrendo. Durante o dia morre-se vivendo. O dia teima em não passar, aumentando o vazio, guardando para a noite a dor.
Hoje o olhar fixa-se no chão e o corpo, sentado, lentamente e com a música, baloiça, cada vez mais, até que se perca o equilíbrio e caímos. Com a cara no chão e o olhar fixo no vazio apercebemo-nos que não existe ninguém para nos levantar. E doi.
Um dia a melodia será a minha companhia descendo aquela velha rua e lentamente entrarei na escuridão da floresta. Ouvirei os pequenos sussurros perto dos meus ouvidos e para o céu gritarei.
Com a arma escondida matar-me-ei.

sexta-feira, setembro 02, 2005

O ambiente cinzento

Era Inverno.
O ar gelava as bochechas e as mãos adormeciam. O céu estava cinzento. Todo o céu era apenas uma nuvem cinzenta, como se o sol nunca tivesse existido. Os carros passavam rápido e os passos das pessoas na calçada era apressado. Todos vestiam cores escuras e roupas quentes.
Naquela esquina, num abrigo, duas pessoas olhavam-se. Uma sentada no colo da outra, uniam as suas mãos nas costas uma da outra, decoravam os traços da face que viam a poucos centímetros. As peles macias e os lábios carnudos. Os olhos claros e penetrantes. A cidade continuava em movimento.
O sol não se punha nem nascia, tudo estava pintado de cinzento, como se a qualquer momento começasse a chover, apenas restava uma leve iluminação que o relógio roubava.
Sentiam-se beijos lentos, longos e narizes frios, cachecóis escondiam pescoços quentes, suaves e gorros cabeças despenteadas. Ouvem-se sons de casacos que se movem e o som de fundo de uma cidade cinzenta por natureza. Poucas palavras eram ditas. Esboçavam-se sorrisos. Perfumes quebravam o ar frio que se sentia.
Palavras ingénuas.
Escurecia e o céu pintava-se de negro. O cinzento transformara-se aos poucos negro. Longas despedidas recheadas de abraçados, árvores nuas ao longo da rua definiam o percurso.
Alguém caminhava lentamente com o olhar pregado no chão fumando um cigarro. Olhou para o céu que lhe trouxe uma memória, soltou um leve suspiro e continuou.
Era eu hoje.

segunda-feira, agosto 22, 2005

Quero tudo aquilo que tive

Eu queria manhãs solarengas.
Queria a frescura do acordar entre folhas verdes e um rio límpido a poucos metros de mim.
Queria sentir-me em harmonia com um pequeno grupo de pessoas. Nada mais existia.
Queria perder a noção das horas, viver sem relógio, sorrir sem sentir qualquer tipo de preconceito, viver esquecendo toda a minha dor.
Queria liberdade, queria ver o sol nascer enquanto conversava.
Queria olhares sorridentes e risos madrugada fora.
Queria observar auto-estradas aéreas e rir deitado na relva.
Queria desabafar e chorar.
Queria ver a maior e mais próxima estrela cadente de todas.
Queria sentir-me vivo num ambiente desenhado para mim por um artista desconhecido.
Queria sentir-me acarinhado.
Queria mais uma conversa sobre a minha estupidez.
Queria que me entendessem. Não que me julgassem.
Queria pagar mais um café.
Queria observar as pessoas e sorrir. Por ter sorte em as conhecer.
Queria observar todos os seus gestos que agora me deixam com saudades.
Queria música.
Queria que sentissem a música como eu.
Queria que dançassem como a minha mente dança no seu interior.
Queria ouvir a mesma música com a mesma intensidade sabendo que tenho pessoas que quero ao meu lado.
Queria ter frio e que uma caminhada até a casa de banho fosse uma aventura.
Queria olhar nos olhos das pessoas e ver vontade de viver.
Queria ver vontade de falar. Vontade de se estar.
Queria ver a vontade de que se pudessem, o sol não se erguia e viveríamos para sempre numa madrugada onde tudo seria como estaria.

Todos continuariam a conversar.
Todos continuariam a beber e a fumar.
Todos continuariam a rir e falar.
Nada mais existiria.
Todos conseguiriam ser felizes.

Não ter que contar os dias.
Não ter que me preocupar com o que dizia.
Não ter que estar seja onde for seja quando fosse.
Foi tudo o que eu sempre quis e senti quando tornaram os meus sonhos realidade.

Quero novamente aquele lugar verde.
Quero novamente aquelas pessoas que sorriam e me compreendiam.
Quero matar as saudades que agora magoam.
Por saber que tudo o que vivi terá que ser revivido vezes e vezes sem conta apenas dentro da minha mente.
Não quero este quarto velho.
Nem esta janela para o vazio.
Não quero acordar a meio da noite com uma saudade doentia.
Só quero a felicidade que nunca na minha vida exigi.

terça-feira, agosto 09, 2005

Adeus

Queria que todas estas palavras derramassem uma lágrima em sinal de respeito pelo meu vazio.
Porque eu sou o único que se sente a si mesmo.
Partiram-me a cara várias vezes. Eu suspirei e continuei.
Alimentaram-me sonhos e destroçaram-nos. Eu observava e os olhos humedeciam.
Todos os dias.
De todas as maneiras.
Com um simples olhar.
Com uma simples palavra por dizer.
Desde sempre.

Hoje acordo mais sozinho do que nunca.
E sinto a minha última oportunidade a desaparecer.
Já nem força tenho para lutar pelo que quero.
Porque depois de todo este tempo, por tudo o que um dia lutei, sempre perdi.
Porque depois de todo este tempo, tudo o que eu um dia tive, desapareceu.
Apenas o vazio aumentou.
Porque tudo o que vivi pertence a um passado que me foi roubado.

Hoje acordo com mais vontade de adormecer.
Porque é a única maneira de me esconder de mim mesmo.
Já nem força tenho para lutar pelo que sou.
Porque depois de todo este tempo, depois de tudo o que senti, o déjà vu de solidão voltou.
Porque depois de todo este tempo, depois de tudo o que vivi, apenas o vazio ficou.
E o vazio aumentou.
Porque tudo o que sou pertence a alguém que nunca serei.

Hoje acordo com vontade de morrer.
Porque é a única maneira de um dia poder viver.
Já nem força tenho… para me olhar de frente ao espelho.
Porque eu sou o único que se sente a si mesmo.

domingo, julho 31, 2005

As estrelas disseram

Quando nos sentimos pequenos é que nos apercebemos do tamanho do mundo.

sexta-feira, julho 22, 2005

Exploring the infinite abyss

Mas que merda é que o meu pai fez à caneta? Está sempre a falhar. Talvez seja para eu não desperdiçar tempo a escrever mais umas linhas. Talvez eu não tenha nada de interessante para contar. Mas quem tem? Toda a gente. Todos menos eu. Afinal o que é que eu faço? Eu não sou nada. Não existe alguém que me conheça realmente desde criança até agora, por isso não posso ser nada. Quem é que se limita a ficar fechado no quarto? De certeza que falam com pessoas. Recebem contactos de alguém. Eu durmo de dia e durante a noite deixo a luz do quarto apagada e coloco a tv num canal que cause iluminação suficiente para tocar guitarra. E porque é que eu toco guitarra afinal? Vai ser ela que vai definir a minha vida ao roubar-me horas de sono? Eu simplesmente gosto dela. Já adormeci umas quantas vezes com ela por cima de mim e ao meu lado.
E porque pego no caderno? E sempre a mesma caneta preta? Porque raio eu á 10 minutos atrás fui à casa de banho simplesmente para olhar para o meu rosto? Bem, não fui apenas fazer isso. Não resisti a ir buscar leite com chocolate. Tenho esse ritual. Pego numa tigela e vou à prateleira buscar o frasco de chocolate. Coloco umas colheres de chocolate enquanto penso em como me assustaria se sentisse algo atrás de mim e vou buscar o leite ao frigorífico sempre com o olhar no chão. Eu gosto de colocar primeiro o chocolate na tigela em vez do leite. Assim posso verter o leite depressa e vejo o leite a ficar da cor do chocolate. Acabo sempre por colocar mais duas colheres. Gosto de estar acordado à noite. Está tudo tão silencioso que me consigo ouvir respirar. O cabelo comprido põe-se na frente dos olhos quando volto a colocar o leite e o chocolate no lugar. Mas eu gosto. Quem é que perde tempo a escrever sobre isto? Eu acho que a minha vida ou a maneira como a vivo assenta bem no rótulo de falhado. E ainda tenho 19 anos.
Mas é nisso que penso quando estou aqui completamente sozinho. É isto que penso. Estou completamente sozinho. Não imagino que exista uma única pessoa que seja capaz de me ter no pensamento neste momento. Acho que isso ainda me faz sentir mais abandonado. Mas hey, isto é a vida não é? Qual o mal de mais um gole de leite com chocolate?
A cama está por fazer á 2 dias e mesmo assim deito-me nela. Nem me dou ao trabalho de tirar a roupa. Merda de caneta. Acho que me fascina a ideia de ter comigo pessoas que pensam da mesma forma que eu. Não alguém que seja uma cópia de mim. Mas que sintam o que eu sinto. Mas o que é que eu sinto? Eu não sinto nada. Eu sinto o vazio. Um vazio palpável que me dá vontade que alguém o apalpe comigo. O que é que eu estou a tentar dizer?
Acho que queria partilhar as minhas ideias por fotografias. A fotografar a cama exactamente com esta iluminação, o caderno, a caneta, a minha perna cruzada e a minha mão a escrever, exactamente como agora estou a ver enquanto escrevo. Acho que daria uma boa fotografia… Mas eu sou um falhado.
Gostava de saber o que torna as pessoas únicas. Acho que quase nunca na minha vida (ou na falta dela) olhei para alguém e disse para mim mesmo “uau… tudo o que fazes deixa-me ficar especado à espera do teu próximo movimento.”
Porque eu gosto de uma simplicidade inata que consegue tornar as pessoas únicas, na maneira como olham para as coisas que as rodeiam, da maneira como sorriem ou até fumam. Eu não ligo aos meus detalhes, mas os detalhes do mundo fascinam-me.
Eu acho que nem sequer reparo no meu aspecto. Já não lavo o cabelo á uns dias muito menos uma lâmina na cara. Tenho o aspecto de um vagabundo, sobretudo neste ambiente. T-shirts rascas, calções de ganga, descalço e sem meias. Sou uma anedota.
É incrível. A minha mão tem um perfume que quase me faz querer trincar os dedos. É tão suave e no entanto tão intenso. Continuo a cheirar a mão enquanto escrevo. Não sei onde arranjei este perfume. Mas não é um perfume que é produzido, não vem de laboratórios ou plantas. É natural. O meu não pode ser. Nunca senti o meu cheiro além de ter bastante curiosidade em o descobrir. Acho que tenho que me limitar a perguntar às outras pessoas. Mas o que estou a dizer… Nem vale a pena. Eu acredito que o meu cheiro não tenha um terço do encanto do perfume que sinto na minha mão. Não me apetece largá-la.
A que cheira a minha pele? Se o perfume for o reflexo do interior de alguém, penso que a minha fragrância seja como uma flor mal tratada, uma flor que não encontra significado para existir, logo não desabrocha. Prefiro pensar assim. A minha segunda hipótese é um esgoto municipal.
Mas a minha mão… Faz-me imaginar sons na minha mente. Aqueles sons de roupas que se roçam entre respirações descoordenadas fruto do desejo. Este perfume está a brincar comigo.
Acho que vou continuar assim o resto da noite. Pode ser que agite um pouco os meus sonhos. É bom sonhar mas é mau quando acordámos e vemos que aquela realidade apenas existe na nossa mente. Os sonhos muitas vezes são um pecado a que temos direito mentalmente. Com tanta vontade dentro da nossa mente só pensámos como somos uma merda e se o que sonhámos não passa de um sonho por alguma razão é.
Eu acho que falo demais comigo mesmo. Acabo sempre por divagar. E acho que isso acaba por fazer com que continue aqui fechado. A pensar em algo impensável, a sonhar com algo surreal, a suspirar o mais sentido dos suspiros.
Resta-me olhar para o tecto e lembrar-me que o tempo está a passar, sem esquecer que me sinto completamente sozinho. Acho que é nesses momentos que aprendemos a viver. Ao saber que falhámos.

terça-feira, julho 19, 2005

Observando o lado vazio da cama

Ela parece feliz mas não sorri,
Parece triste mas não chora.
Observa o meu olhar mas não entende,
O que escondo em mim.
Apenas os olhos se movem,
Sem sequer pestanejar.
Gostava de poder falar,
Do que infelizmente consigo sentir.
A dor.
O amor.
O ódio.
A paixão.

Mas ela não responderia,
Muito menos sorria.
Fecharia os olhos por conforto,
E morreria para me visitar em sonhos.

Hoje é so mais uma noite sem sono,
Observando o lado vazio da cama.

sexta-feira, julho 08, 2005

Só mais um orgasmo

Madrugada.
Está tudo no seu devido lugar.
O mundo cumpre o seu horário, nascem e acabam vidas, sorrisos, choros, discussões, declarações, olhares, danças, passeios, fugas, seduções, orgasmos, tudo está a acontecer neste preciso momento. Aqui tudo está parado.
No chão, com as costas na parede fria, enquanto olho para o tecto de madeira, ouço as folhas lá fora que se masturbam numa orgia a que chamámos vento. Nada mais. Apenas folhas que se acariciam mutuamente. A porta á minha frente abre-se lentamente e nada. Ninguém entrou. Fiquei com calor e o vento parou. Sussurro mais uma vez as palavras que não existem. A televisão ligada mostra-me tudo aquilo que eu já vi e me é familiar. Futilidade. Persegue-me. Consegue ser melhor do que eu.
Terei que cortar o cabelo para me encaixar num grupo de pessoas que reagem e sentem as coisas de uma determinada maneira, terei que usar roupas para que as pessoas reparem nelas e se apercebam a como pertenço ao grupo que está na moda mesmo que o objectivo seja fugir dela, terei que usar palavras certas de maneira a parecer um poço de apatia. Só assim serei alguém, igual a todos os outros.
Eles gostam de brincar com os sentimentos uns dos outros. Existem manhas, leis, regras que obedecem para que tudo dê certo. Existe arrogância, audácia, falsa ingenuidade nos actos. E no final do dia todos deitam a cabeça nas suas almofadas felizes do que fizeram na vida até ao momento. Servem-se de modas e anti-modas. Ninguém é puro. Todos dormem. Filhos da puta!
O mosquito pousou no meu braço. Deixo-o continuar com o seu ritual e sinto a picada. Voou. Sou amargo.
Tenho as veias desenhadas a preto no meu braço esquerdo e assobio. Sorrio.
Concentro o olhar na guitarra sem cordas que está no chão. Ainda se consegue ouvir a distorção que continua no amplificador quando num momento primitivo, reagindo a sons cheios de raiva que acordaram aqueles que dormiam, arrancava as cordas num orgasmo musical.

sábado, julho 02, 2005

This is gonna be a good night

É impressionante como o mundo é pequeno. É tão estranho e ao mesmo tempo recorfortante sabermos que os locais que visitámos em criança agora são capazes de nos fazer sentir tão bem. Sentimos uma leve nostalgia que nos faz esboçar um sorriso mas acima de tudo existe tensão que se sente no ar parecendo que tudo aquilo está ali só para nós.
Eu só como torradas em ocasiões especiais.
A paisagem é a mesma, só que desta vez conseguimos dar valor ao que nos rodeia. É o local que á tanto tempo está na nossa mente para navegar durante a noite. As ruas estreitas que ficam tão bem enfeitadas quando o sol cai e nasce a luz amarelada do candeeiro de rua, onde ecoam os pequenos risos de quem se sente realmente bem e se vê o fumo de quem se lembrou de acender mais um cigarro. Tudo fica mais... nosso. E não há uma frase que consiga transmitir o que se sente no momento. Existem pontes que tremem, rios que matam e rochas que guardam tardes de conversa. Uma capela pecadora e uma pizzaria fechada. Uma pessoa que se sente parva e outra que ri da estupidez que presencia.
As ruas desertas ou pouco povoadas parecem ser a benção para quem realmente procura vida na vida. A sua escuridão combina com o que se sente dentro dos que nelas caminham criando uma sensação serenidade que quase parecemos entrar num filme que nos faz criar momentos como um simples piscar de olhos bem lento enquanto olhámos para o lado.
Pequenas mensagens são entregues, seja no silêncio, seja na voz que teima em não terminar uma frase com sentido. Nascem sorrisos que fazem nascer outros ainda maiores.
São rasgadas recordações da parede e nasce um fascínio pelo quarto onde a guitarra pede um acorde, a cama convida para assistir a um filme e as imagens que preenchem as paredes demonstram personalidade. Existem boas vibrações.
Observo de longe os poucos carros que passam na estrada enquanto sentado penso para mim mesmo, entre o silêncio, que não preciso de mais nada. Sinto-me no lar que nunca tive. Sinto-me de uma vez por todas bem comigo mesmo, longe de julgamentos, traições ou desconfortos.
Tanto riso. Crio ritmos de bateria numa mesa enquanto observo quem está distraído a observar as minhas mãos. Sento-me na divisão sem luz e sussurro as palavras que me aparecem na mente sem pensar nelas. E surge o silêncio. Que pode significar tanta coisa boa, como má. E aparecem na cabeça todas as emoções que não poderíamos ter no passado. Foi perdida a noção do tempo para começar algo que á muito estava escondido. Tudo isto entre o silêncio e a escuridão. Sentiu-se a intensidade.
Consegui ouvir um sorriso. É possível?

domingo, junho 26, 2005

Ataques de pânico

Quando era pequeno, costumava ficar num estado que não entendia muito bem e apelidava de ataques de pânico.
De vez em quando acordava durante a noite com medo de algo que não sabia bem o que era. Eu sabia que eram pesadelos que me faziam isso, mas a sensação era dolorosa demais. Faziam-me chamar pelos meus pais mas nunca ninguém me ouvia. Outras vezes podia acontecer momentos antes de adormecer. Quando estivesse a pensar em algo que me pudesse assustar. E chegava a pensar tanto nisso que tinha medo que acontecesse. Tanto medo ao ponto do meu coração acelerar de tal modo que me abraçava a mim mesmo e obrigava a minha mente a pensar em outras coisas. Era tão desconfortável. Entrava em pânico e a única maneira de me acalmar era relaxar a minha mente com algo desnecessário, mas o suficiente para o medo passar.
Essas eram sensações que não gostava nada de viver, eram pequenos ataques de pânico causados por mim, pela minha imaginação. Pelo medo de por exemplo, durante uma tempestade, enquanto ouvia o som que tanto assusta a maior parte das pessoas, eu tinha medo dos silêncios. Era entre eles que eu ficava a pensar, que o raio ia cair ali no meu quarto. "É agora. Agora. É agora. Agora. Agora." Tornava-se difícil respirar.
Descansava quando ouvia o som de mais um trovão. Por momentos a minha mente não se iria fixar no silêncio fazendo o meu corpo paralizar tal o medo de um momento para o outro sentir um raio cair ali no meu quarto. É indescritível o pânico que eu era capaz de sentir com tudo isto.
[Vou procurar mais folhas com formas que me façam sorrir.]
Tanto tempo passou desde esses dias. Mas não o suficiente para os ataques de pânico desaparecerem totalmente. Não me refiro a estes medos psicológicos. Estes pensamentos que me torturavam literalmente até que ficasse calmo. Desta vez os ataques voltaram a nível emocional. Desta vez eles estão de volta com medos bem reais.
Surgem quando me cruzo no espelho e me obrigam a parar.
Fico a olhar fixamente para quem vejo no espelho. Muitas vezes esqueço-me como sou e de como devo roçar a estupidez no dia a dia. Dentro da minha cabeça começam por surgir opiniões. Olho-me com raiva, outras vezes com tristeza. Olho-me como se fosse outra pessoa que eu gostasse de interagir e de beijar. Não por admiração pelo que vejo. Pelo contrário. Para que, por um dia, quem vejo recebesse um abraço com amor, que nunca iria ser quebrado. De um amor muitas vezes disfarçado de ódio quando penso em mim sem me ver. É tudo mais simples quando me olho ao espelho e consigo ler no meu olhar como me odeio. Nas outras vezes, o cabelo parece incomodar, os detalhes do rosto mostram alguém inacabado, que com o tempo se irá tornar no que nunca quis ser. Será mais um rosto envelhecido sem histórias para contar.
Surgem palavras que me foram dirigidas, começam cada vez a ganhar mais e mais razão á medida que me olho. E de repente sinto nojo. É isto que conseguem ver quando me olham na rua? Talvez seja por ser isto que tudo o que me aconteceu na vida acabou por acontecer. Todos os insultos que nunca me fizeram magoam. Fazem com que se torne difícil respirar. Tenho que tentar arranjar uma forma de olhar para mim e conseguir ver algo que me dê esperança.
Estes novos ataques não acontecem apenas pela imagem que vejo no espelho. Acontecem pelo o que a imagem do espelho passou. Pelo que os olhos da pessoa do espelho foram obrigados a ver vezes e vezes sem conta. É a profunda tristeza e a frustração de ser alguém que quando olha para ele mesmo apenas consegue ver uma dor de quem já tentou de todas as formas viver, mesmo em tentar não o fazer.
São os olhos verdes de raiva, a pele estragada por genes longe da perfeição, os lábios que nem um sorriso agradável para quem o vê são capazes de o fazer, as várias dependências que apereceram, a família e a falta dela, a confiança e a falta dela, os 19 anos recheados de dor, a cama fria, o teclado sujo, a caneta preta e o caderno azul, a guitarra desafinada, a janela sempre com a mesma paisagem, o autocarro atrasado. Tudo se junta num só pensamento que é lido vezes sem conta de uma forma confusa pela voz do meu pensamento e aos poucos é capaz de me causar um desconforto comigo mesmo.
E doi a falta do abraço que NUNCA tive. Doi o facto de quanto mais tempo passa, mais magoa. Doi o facto de eu ter que viver a vida desta forma e não ser capaz de o fazer de outro modo. Porque durante anos que me olho e nada mudou. A esperança acaba por aparecer, é ela que faz o ataque passar, mas demora a aparecer. Os ataques acabam por voltar.
Estes ataques de pânico magoam permanentemente. Os anteriores eram apenas medos de criança.
[Diz-se tanta coisa nos momentos em que se escapam palavras.]
Preciso cortar o cabelo.

terça-feira, junho 21, 2005

I have no right [you know you're right]

Não existem palavras, apenas imagens.
Fala-se de tudo e do nada.
Cruzam-se olhares e escapam-se palavras.
Existe tanta coisa que ao mesmo tempo não pode existir nada.
E aqui deitado os violinos desafinados começam a sua sinfonia.

quarta-feira, junho 15, 2005

O som do silêncio

Lá estava eu a dormir até tarde novamente.
Da janela já a claridade invadia o quarto e eu entre os lençóis, encolhia o meu corpo e escondia a cabeça debaixo da almofada. Eram os malditos pássaros com o mesmo chilrear de sempre que anunciam os dias quentes. Por momentos existe uma sensação de paz quando me concentro no meu corpo. Não se mexe um centímetro e sinto um silêncio que me preenche a mente de tal modo que me relaxa. Penso para mim que são destes momentos que as pessoas deviam viver.
A porta do quarto abre-se lentamente e consigo ouvir o som das roupas que se mexem até mim. Sentam-se na cama e permanecem em silêncio.
Dizem-me que já é de tarde e perguntam se me doi a cabeça. E lentamente digo um não com a cabeça.
Perco a noção do tempo, e por momentos adormeci, talvez minutos, talvez segundos. Quando dou por mim seguram a minha mão. Agarram a palma da minha mão e dizem que gostam de olhar para as mãos das pessoas. Confessam que as minhas são bonitas. Quase num gesto bonito e carinhoso sinto os meus dedos lentamente, desfarçadamente, tentando agarrar a outra mão que segura na minha palma.
Dizem-me que está um dia bonito. Não devia estar ali. Não solto uma palavra, nem um único som. Nem a minha mente é capaz de pensar em algo para dizer a ela mesma. Só uns pequenos murmúrios.
Voltam a prestar sentido à minha mão, acariciam o espaço entre os dedos suavemente e mais uma vez aparece um longo silêncio que quase nos faz ouvir o planeta a girar.
São nestes momentos que imagino como é estar no céu azul, a olhar para baixo, ouvindo o som do silêncio.
Em estar num lugar ou ambiente completamente diferente onde já seja noite e ninguém esteja na rua mas onde esse silêncio exista.
A voz volta a falar dizendo que há algo de errado. Mal ouvem o coração bater. E o fim está muito próximo.
É feita mais uma carícia na minha mão e rapidamente a recolho para dentro dos lençóis.
Solto um longo e escondido suspiro e fecho os olhos com força na vontade de esquecer tudo o que tenho dentro da minha cabeça ou cair num sono longe de memórias.

terça-feira, junho 07, 2005

Eu odeio-me

Mas se conseguisse, gostava de poder beijar o rosto que vejo no espelho quando estou bem próximo dele, só pelo olhar que me dá e que entra dentro de mim.

sábado, junho 04, 2005

Punk rock is freedom

São 4 da manhã e acabei de chegar a casa. Deixei de parte os textos intelectuais e limito-me à minha estupidez.
Descobri o que quero fazer, o que quero de mim mesmo e é ser livre.
É pegar num carro durante a noite e viajar nas ruas desertas do Porto. É imaginar o Darth Vader a tropeçar na sua capa enquanto caio lentamente para frente com tanto riso e me apercebo como estou a ser estupido. Quero ouvir os sons das ruas desertas que toda a gente ignora quando estão ocupados demais a descansar a mente mas ao mesmo tempo abrem caminho para aqueles que nunca se enquadram em lado nenhum. Para aqueles que preferem viver onde pouca gente existe e os que existem percebem a nossa vontade de viver.
Levem-me embora, estou disposto a tudo. Roubem um carro, tropecem e riam ás gargalhadas mas continuem a fugir e não se esqueçam de me dar boleia. Levo roupa para uns dias e dinheiro para pequenas refeições. Deixo para trás as velhas preocupações e levo comigo a vontade de viver. Que se cruzem olhares e que olhos transmitam a felicidade que pouca gente entende. Levo comigo quem quero, como quero e o futuro é meu.
Que venham as dificuldades e os problemas, irei saborear a vitória quando os ultrapassar com um pequeno sorriso dado para a calçada. Que se durma durante o dia e à noite se navegue. Que a brisa morna me acaricie a cara e com os olhos fechados consiga ouvir onda a onda a quebrar. Que se ouça os risos de quem brinca na areia.
São adolescentes.
PUNK ROCK IS FREEDOM
Descobri onde encontro a liberdade para expandir o meu ser e esse lugar é no vazio que os outros criam.

quarta-feira, junho 01, 2005

Despertar

Começo por ouvir o som do rio que passa mesmo aqui ao lado e tento abrir os olhos.
Sinto-me sensível a cada detalhe à medida que desperto e me tento levantar do chão. Abro o meu abrigo e deparo-me com uma fria névoa matinal que inspiro. Observo o cenário cinzento que me rodeia e sinto a leve brisa que faz com que as folhas se toquem umas nas outras. Os primeiros passáros começam a chilrear e todos os sons se misturam criando o ambiente que desde sempre sonhei.
Enquanto aprecio a serenidade que finalmente me foi oferecida, uma mão morna agarra o meu pulso e puxa-me novamente para dentro. Vamos dormir.

sexta-feira, maio 27, 2005

Madrugada

Acordo sempre com o mesmo som.
Sempre com a mesma respiração no meu ouvido. Mantenho-me sempre imóvel, com a cara húmida de lágrimas, encolhido, totalmente debaixo dos lençóis. Até que no quarto se sente movimento. Fecho os olhos com força e o colchão começa novamente a dar de si. Os lençóis começam a encostar-se mais ao meu corpo. Sinto as minhas costas frias, uma sensação de abraço e ouço novamente o mesmo suspiro ao meu lado.
O meu anjo da guarda chega sempre tarde demais.

domingo, maio 22, 2005

O perigo da montanha

No topo de uma montanha aparece sempre uma maior

Esta realidade assusta.
Combatemos com o que temos, sofrendo e sorrindo, chorando ou abrançando, dá-mos o nosso melhor e todo o percurso nos dá prazer, faz-nos sentir vivos. Quando atingimos o topo, tudo acaba. O percurso acaba, a adrenalina e a sensação de que vivemos a nossa vida ao máximo desaparece.
É lá em cima, deitados na pedra de uma caverna fria, completamente sozinhos, que ouvimos as tais palavras.
No topo de uma montanha aparece sempre uma maior.
A sensação de abandono e solidão consegue aumentar depois de tais palavras. Poderia tomar tudo como um desafio, como uma nova oportunidade de sentir toda a felicidade novamente. Mas eu acredito que em todas as montanhas, quando chegámos lá em cima está frio.
Tão frio que nos congelam as lágrimas e apenas conseguimos soltar pequenos gemidos que ecoam na fria caverna.
Todas as montanhas nos ferem quando atingimos o topo, quando nos julgamos no topo do mundo. E eu não sou um daqueles que continua a subir a seguinte que dizem aparecer além. Porque eu sei, que quando mais alta ela for, quanto mais alto for o cume, mais dificuldade terei em respirar. Para além da dor e do vazio, não me consigo sujeitar a chegar ao topo de outra para que a dor seja tanta que não consigue respirar.
Eu nunca subi tão alto.
Continuo dentro da caverna.
E com os meus olhos fechados subo a mesma montanha todos os dias. É o suficiente para me matar lentamente.

domingo, maio 01, 2005

Every Day Looks Exactly The Same

E se tudo o que vives fosse apenas um sonho?
E a realidade se encontre escondida na tua própria sombra?
Os teus deuses não passam de meros impostores conhecedores da verdade absoluta escondida por Aqueles Que Não Conhecemos.
As recordações estão presentes na tua memória. Para ser feliz basta formatá-la quando necessário.
O poder da mente do ser humano está limitado devido ao seu corpo. Só não evoluí mais porque não tem recursos.

Todos os seres humanos estão ligados. Tu existes de várias formas. O teu ser não é apenas unidimensional. Tu existes na mente do teu pai, da tua mãe, do teu irmão, do teu melhor amigo, do teu amigo. Existes de uma forma diferente em diferentes mentes, tens diferentes identidades em diferentes mentes.
Todos te veêm de maneira diferente. Todos te veêm a andar, com as tuas roupas, o teu olhar, as tuas costas, de uma maneira que nunca poderás conhecer. Não podes julgar que te conheces. Não sabes como as outras pessoas te podem conhecer. Já te viste passar por ti mesmo? Eles já te viram passar por eles. Eles conhecem-te de uma forma que tu nunca vais conhecer.
Para aqueles que não te conhecem, simplesmente não existes.

What if everything around you
Isn't quite as it seems?
What if all the world you think you know
Is an elaborate dream


Tudo começa quando questionas o que é ou não real. Se encontras uma ponta de verdade começas a ser observado.
Não podemos ter medo de entrar no quarto escuro nem de uma mão que nos possa agarrar. Essa mão pode salvar-nos de algo que nem em sonhos imaginamos.

E se o teu corpo não fosse preciso para viveres? Se depois de dispensares o teu corpo ficasses ocorrente de uma dimensão que existe sob a que anteriormente vivias? Começavas a viver nas sombras do mundo real. Mas qual é o real?

When you look at your reflection
Is that all you want to be?
What if you could look right through the cracks
Would you find yourself... find yourself afraid to see


De onde vieste mesmo?
Tenta entrar no teu inconsciente e surpreende-te. Passa para o outro lado. E junta-te a uma comunidade de pessoas que partilham os mesmos interesses que tu. Que estão ligadas a ti e tu a elas.
Com o tempo vais descobrindo que essa comunidade está cada vez maior, cada vez mais real... Mas como é que nunca ninguém falou nela?
É secreta. Existem partes que não precisam de ser desvendadas. Podes ter conhecimento dela até um certo ponto.
A tua vida, a tua rotina é cada vez mais monótona. E começas a reparar no que te rodeia de outra forma.
Tudo parece mais morto do que quando te ligas a ti mesmo e és quem queres ser.
O problema é que me encontrei com o meu eu que existe na mente de quem me conhece. Tive a força para os eliminar, mas no dia seguinte era um desconhecido para toda a gente.

Pela primeira vez, deus falou comigo e disse que eu era uma das suas belas criações, que lutava pela verdade. Estes assuntos assustam-me e por isso volto ao meu dia-a-dia. Dia-a-dia que cada vez mais me mostra manifestações do mundo que descobri para além do que toda a gente conhece. Mesmo as pessoas que já não existem neste mundo existem no outro. E quando todos os elementos necessários surgem, acontecem as aparições de quem já não está presente neste mundo mas continua no outro.
No mundo que eu e tu vivemos existem pessoas que estão cientes dos problemas que existem entre este e o outro mundo, e existem uns que lutam por uma união dos dois e outros que tentam impedir que toda a raça humana assista horrorizada a uma verdade que não precisa de conhecer.
Porque não precisámos de saber toda a verdade. Aqui temos algo que construímos e que vivemos. O oposto do que acontece no mundo escondido onde as coisas simplesmente são como sempre foram. Onde não existem corpos mas sim forças, não existem vozes mas sim pensamentos que se inserem automáticamente na nossa mente e respondemos sem sequer nos apercebermos disso.
O nosso corpo é apenas um holograma do nosso ser. Uma representação física.

Fiquei muito baralhado quando toda esta informação foi-me descodificada. No meu dia a dia, tudo tão normal que assustava e quando adormecia, ou acordava, mais enigmas surgiam.

What if all the world's inside of your heart
Just creations of your own
Your devils and your gods
All the living and the dead
And you really are alone


Começas a pensar para ti mesmo se o que vives agora é apenas uma continuação daquilo que vives quando te ligas a ti mesmo. Se o mundo real é uma fachada. E se tudo isto é apenas um sonho gerido por um deus? Se todas as sensações que temos acesso, se todas as cores, todos os sons que conhecemos são aperfeiçoamentos de realidades extintas por deus? E quem é deus? Quem criou deus?
Deus foi o primeiro de nós a acreditar que este mundo era uma farsa e atravessou para o outro lado definitivamente.
Da sombra, gere o nosso mundo e só é considerado um deus porque tem pessoas que o louvam. Sem crentes não existe um deus.
É um falso deus porque não criou nada. Aperfeiçoou. Aperfeiçoou aquilo que já estava criado. Deus sabe que não é o criador. Sabe que é representado como um ser superior entre nós e aproveita-se disso. Porque o lugar dele nunca foi aquele. E os seus fiéis, aqueles que espalham a sua palavra secretamente querem dominar este lado também.

Eu fui criado para cumprir um objectivo. Enfrentar deus.
Acabarei com a presença dele no outro lado quando o questionar sobre a sua existência e equilibrarei os dois mundos de forma a que um sirva para viver e outro seja o programa que é, para gerir tudo aquilo que hoje conhecemos deste lado.
Mas até lá todos podemos fazer uma visita mais aprofundada.

You can live in this illusion
You can't choose to believe
You keep looking but you can't find the words
Now you're hiding in your dreams


Todos nós estamos escondidos neste sonho.

segunda-feira, abril 25, 2005

Um esboço

Sou incompleto.
Um esboço de um pintor.
Uma ideia para um bonito quadro que nunca chegou a ser pintado.


I wake.
I'm up.
I cheat.
I'm sweet.
I'm sick.
I'm freak.
I'm geek.
I'm neet.
I'm it.

domingo, abril 17, 2005

Will You Chew Until It Bleeds?

Apetece-me fazer amor com a tua mão.
Sentir a ponta dos meus dedos deslizar entre os teus, lentamente. De uma forma tão lenta que cause um certo desespero, uma impaciência de sentir a tua pele macia. De uma forma que consiga visualizar a tua mão de olhos fechados, sentir ao pormenor a tua pele, cada pedaço dela. Sentir ao pormenor os teus dedos, cada milímetro deles. Que faça a minha cabeça cair para trás com uma longa inspiração depois de ter consumido mais uma dose do meu vício.
Os meu dedos lutam entre os teus, dançam na palma e tocam suavemente por cima da tua mão, muito de leve, que cria o arrepio que me faz iniciar novamente o mesmo ritual.
O lábio inferior deixa-se deslizar bem devagar pela mão e o nariz aproveita para sentir o perfume natural que altera a minha linha de raciocínio, desenvolvendo dentro de mim um desejo intenso.

quarta-feira, abril 13, 2005

Recordações

Elas chegam e levam um pouco de nós.

"E logo tu que eras o príncipe dela..."

segunda-feira, abril 04, 2005

R.E.M.

Neste momento as cores como as conheço desaparecem e em mim nasce a incerteza do segundo que se segue.
O momento traz com ele uma mensagem em código que apenas com bastante arte é descodificado. Elementos que através de graus de associação nos apresentam outros elementos, levam-nos a um pensamento que o nosso subconsciente tenta transmitir.
Não faço a mínima ideia para onde me levam as árvores cinzentas e as suas sombras negras criadas pelo luar e o céu estrelado. Apenas consigo ouvir o som dos ramos e das folhas secas que afasto com os braços para abrir caminho na direcção que sigo. A visão distorce á medida que avanço e tanto os troncos como os ramos das árvores deslizam lentamente na imagem deixando cada um deles um pequeno rasto nas imagens cada vez mais nubladas. As árvores parecem multiplicar e a sensação de desespero chega ao peito de uma forma aguda.
Escuto sussurros enquanto a velocidade do meu passo no pequeno trilho aumenta. Começo a reconhecer o desespero que nasce através da solidão. Como que dezenas de pessoas se tratassem, os sussurros começam a aumentar de tom e apenas assisto aos meus movimentos que já não controlo. Sinto a presença de algo. Acabo de chegar a um círculo cerrado por árvores. Os sussurros bem próximos dos meus ouvidos transformam-se em gargalhadas perturbantes que me afectam de tal modo como alguém que aperta o meu coração e lentamente a vida me leva. As cores acinzentadas começam agora a escurecer até tudo desaparecer.
Só mais um sonho por desvendar.

quarta-feira, março 30, 2005

Inconsciente


Olhar fixamente para o fundo da imagem.
Ter como música de fundo The Tangent Universe.
Parece que a qualquer momento algo ou alguém caminhará ao nosso encontro.
Enfrentem o que a mente tenta esconder.

segunda-feira, março 21, 2005

É tudo tão engraçado...

É engraçado como a vida nos pode pregar rasteiras.
Tudo depende da maneira como a pessoa cai. Tudo depende de como a vida faz a pessoa cair.
A vida pode muito ser traiçoeira ao ponto de nos deixar subir num balão de hélio até a uma altura em que o balão rebenta e descemos de tudo aquilo que construímos. E enquanto caímos, temos aquela sensação que nos aflige dentro do nosso peito. Aquele vazio que enche o nosso peito de dor. Como se de uma esfera morna se tratasse que aumenta de tamanho lentamente enquanto nos perdemos nas memórias adquiridas ao longo do tempo. Quando alguém não espera cair, a queda é bastante aparatosa. Quando alguém não percebe que está a cair a melhor das consequências é uma morte rápida e indolor pouco depois de se aperceber que tudo vai desaparecer, para que não sinta a falta de nada.
Durante a queda sentimos que não podemos fazer nada pelo que está a acontecer, não temos alternativa do que viver o resto do tempo que nos está reservado a sofrer, por tudo o que sempre amámos ficar para trás, por sabermos que tudo aquilo que lutámos nos deixou para trás. A velocidade que caímos é tanta que nos dá a ilusão do momento nunca mais acabar, fazendo com que a dor se prolongue e aumente dependendo da altura que caímos e de tudo o que construímos. E como se não bastasse, furamos nuvens, que nos oferecem pela última vez, os perfumes que nos fazem recordar momentos importantes da nossa vida de sonho enquanto subíamos. Em segundos na nossa mente vagueiam olhares, rostos, beijos, aventuras, músicas, momentos únicos que sempre nos fizeram sentir vivos e felizes. Tudo aquilo que nos deu confiança, tudo aquilo que um nos fez sorrir aparece-nos agora negado e a dor é indescritível...
Tudo aquilo que quase religiosamente agradecíamos com um sorriso segundos antes de cairmos no sono agora nos faz sentir o oposto. Porque tudo isso agora se encontra longe de nós, cada vez mais longe. E pelo meio não temos tempo para perceber o que aconteceu de errado. Só o suficiente para sofrermos porque tudo aquilo que sempre quisemos nos largou e nos fez cair!
As pessoas que nos observam não têm tempo para reparar que choramos a não ser que se cheguem tão perto de nós que vejam a nossa expressão facial, porque todas as lágrimas ao longe parecem o brilho de uma estrela cadente.
E quando pensamos que aquela pessoa que a conhecemos por brilhar intensamente é aquela que cai com a maior das dores. Talvez porque as pessoas nunca se aproximam verdadeiramente umas das outras.

Eu ainda estou a cair.
Mas já consigo ver o local da queda.

sexta-feira, março 18, 2005

Reflexão

Acho que me fui perdendo ao longo do tempo. Digo isto porque existem momentos em que numa fracção de segundo revivo tudo o que ultimamente se passou
comigo e parece tudo uma mentira, tudo parece errado e o meu único desejo para mim mesmo apresenta-se fechado numa caixa que se vai abrindo aos poucos.
Sinto sempre algo mas nunca o suficiente para saber o que quero de mim mesmo. O meu intímo esconde-se de mim, não sei porquê. Até ao dia que ele exploda cá dentro e aí os olhos que se abrem em mim nessas fracções de segundos me levem a tomar uma acção. Seja qual for, tomá-la-ei.
Se calhar estou habituado a deixar os dias passar e me contentar em saber que podia viver pior. Talvez porque saiba que no passado já passei dias muito mas muito fodidos e que aquela dor, aquele vazio constante no meu dia a dia era muito mais sentido naquele tempo do que actualmente. Não estou a pôr de parte a hipotese que num futuro próximo passe pelo mesmo. Simplesmente, neste momento, consigo visualizar os dias que passei dentro do meu quarto a olhar para o tecto de madeira sem me mexer um centimetro. A quando era obrigado, fechar as minhas pálpebras e abrí-las novamente enquanto da janela entrava o chilrear dos passáros que me faziam imaginar um belo dia de sol. Sei que existiram horas, dias, semanas, meses desperdiçados. E todo o resto do mundo viveu enquanto isso. Dias e dias em que a dor era tanta que eu tinha preguiça e ao mesmo tempo medo de adormecer. Estou ciente que já me manti acordado 72 horas. Sabia que no dia seguinte, quando acordasse, ia ter aquela sensação de despertar e me aperceber novamente do meu estado. Passei tantos dias sentindo-me mal que haviam vezes que já nem me lembrava porque estava assim. Talvez fosse aborrecimento, talvez fosse o produto de um racíocinio que antevia a minha vida como uma merda onde os meus ideais de vida eram completamente postos de lado e do futuro só me aguardava ainda mais angústia. Talvez fosse só mais um dia de mau humor. Talvez o resultado de uma soma de factores negativos na minha vida. Talvez fosse a minha vida que eu não queria. Porque era assim que me sintia. Um nada. Sem amor próprio. Sem amor como o conhecessem. Sem esperança. Sem vida.
Pensar nisto tudo não ajuda. Porque ainda o sinto.
Porque aqui estou eu sentado novamente. Lá fora está espalhado o calor que me faz sentir novamente naquelas tardes de Verão dentro do meu quarto onde passava o dia sem literalmente pronunciar mais do que 10 palavras. O dia de hoje faz-me recordar a maneira como encarava a vida que a cada momento que passa, com os meus verdadeiros olhos abertos, se revela cada vez mais verdadeira. E a minha consciência nem sabe como reagir, criando um bloqueio na minha mente do peso de uma barra de ferro que sinto de um lado ao outro da cabeça que me impede de pensar claramente e só me faz prestar atenção a pormenores como a maneira como as minhas mãos estão secas, como as minhas axilas me incomodam, como o tecido da minha roupa me incomoda quando toca no meu corpo, como sinto a minha cabeça pesada e oleosa. Eu sou bastante traiçoeiro. Não estou a falar do Bruno que as pessoas conhecem. Estou a falar de mim, de mim mesmo, como eu sou realmente. O meu inconsciente liberta agora os seus gritos silenciosos através de sonhos. Sonhos que me fazem entrar num mundo onde as coisas como as conhecemos se apresentam de uma maneira distorcida, de uma maneira invertida. Onde o maior movimento das pessoas é feito durante a noite, onde passo a maior parte do tempo a olhar para o céu porque está sempre estrelado e encontro sempre algo no céu que reluz como uma estrela e certas vezes acaba por me assustar levando-me a acordar. Outras vezes ando num autocarro com pessoas que me parecem familiares mas quando acordo não me lembro de nenhuma em concreto e sinto que nunca estive com elas. Eu queria que as coisas na minha vida se invertessem. Talvez seja isso. A minha angústia refugiou-se no conforto do mal estar adormecido dentro de mim. Isso só serviu para criar um vazio ainda maior dentro de mim.

quarta-feira, março 16, 2005

Glycerine

Já passaram dias a mais.

segunda-feira, março 07, 2005

Os Meus Dias

Já não me recordo da última vez de ter visto o sol nascer. Ou pelo menos acordar a horas para qualquer coisa. Hoje em dia tenho tanta dificuldade em acordar e encarar o dia. Existe uma dificuldade inexplicável que me impede de levantar quando acordo pela manhã. O sono é tão pesado, que o corpo não aguenta e fico preso literalmente em sonhos muito estranhos. Como imaginar o meu dia a decorrer ou uma situação que normalmente seria impossível como tomar um duche quente numa floresta com o som de carros que passam na via rápida mesmo ali ao lado.
Depois de ultrapassada a dificuldade de acordar, perder bastante tempo num duche com fim meditativo e de uma pequena conversa mental com a imagem que todas as manhãs o espelho me mostra, fecho a porta da entrada e ligo os auriculares. De repente vejo tudo a cores novamente. Tenho-me irritado com a facilidade que adormeço a pensar no autocarro, algo muito notório para quem normalmente me apanha no autocarro já muito atrasado para a primeira aula da manhã. Com os auriculares ligados e sem qualquer som exterior, a minha mente acede a momentos que me deixam ainda mais envolvido comigo mesmo e o processo de me levantar para apanhar o próximo autocarro é praticamente automático.
Começo a sentir-me preso a esses momentos também porque muito raramente tenho uma boa conversa com alguém. Sim, porque o que normalmente acontece é: ou não dizer coisa com coisa, ou simplesmente falar de coisas que não interessam a ninguém. E os únicos momentos em que me sinto bem comigo mesmo, são aqueles que vêm acompanhados de uma banda sonora definida por mim.
Sei também que estas linhas para determinadas pessoas são apenas mais umas linhas num blogue, mas para mim é o meu dia a dia. Ficar vários minutos com o olhar na janela do autocarro e com o meu pensamento a bater á porta do subconsciente acompanhado de uma determinada música que através das suas notas me farão imaginar, criar, recordar, um momento, uma situação, uma morte, um nascimento, uma noite, uma manhã, um simples segundo que nunca mais acaba. É o meu dia a dia. Talvez eu devesse reparar mais nas raparigas que entram no autocarro do que na discussão que o casal que parou no semáforo ao lado do autocarro está a ter. No modo como o homem ao volante agita o seu dedo indicador e a mulher se justifica gesticulando com as mãos cheias de anéis. Na maneira como o gato preto brinca com o gato branco em cima do muro. Na maneira como a mãe arrasta o filho pelo passeio com a pressa de cometer adultério. Ou no modo como o músico de rua toca e canta enquanto foca o seu olhar no chão. Talvez sejam detalhes que existam para pessoas sem vida própria repararem. Eu vivo de detalhes.
Vivo do detalhe do dó, do ré, do mi, do fá, do sol, do lá, do si e dos seus tempos possíveis e imaginários. Alimento-me dos pormenores que os detalhes sonoros introduzidos nos meus tímpanos e identificados pelo meu cérebro me fazem observar. De um modo romântico ou melodramático. Com uma angustia menos falsa que a do adolescente comum ou uma carga sentimental mais pesada para a maioria das pessoas que vêem sua vida um sacrifício.
Talvez seja o peso do dia anterior que custe a levantar na manhã seguinte.

quarta-feira, março 02, 2005

Hearts Strings

Our heart strings are our soul. Only we can choose if they make beautiful music... To our soul dance around us.