domingo, julho 31, 2005

As estrelas disseram

Quando nos sentimos pequenos é que nos apercebemos do tamanho do mundo.

sexta-feira, julho 22, 2005

Exploring the infinite abyss

Mas que merda é que o meu pai fez à caneta? Está sempre a falhar. Talvez seja para eu não desperdiçar tempo a escrever mais umas linhas. Talvez eu não tenha nada de interessante para contar. Mas quem tem? Toda a gente. Todos menos eu. Afinal o que é que eu faço? Eu não sou nada. Não existe alguém que me conheça realmente desde criança até agora, por isso não posso ser nada. Quem é que se limita a ficar fechado no quarto? De certeza que falam com pessoas. Recebem contactos de alguém. Eu durmo de dia e durante a noite deixo a luz do quarto apagada e coloco a tv num canal que cause iluminação suficiente para tocar guitarra. E porque é que eu toco guitarra afinal? Vai ser ela que vai definir a minha vida ao roubar-me horas de sono? Eu simplesmente gosto dela. Já adormeci umas quantas vezes com ela por cima de mim e ao meu lado.
E porque pego no caderno? E sempre a mesma caneta preta? Porque raio eu á 10 minutos atrás fui à casa de banho simplesmente para olhar para o meu rosto? Bem, não fui apenas fazer isso. Não resisti a ir buscar leite com chocolate. Tenho esse ritual. Pego numa tigela e vou à prateleira buscar o frasco de chocolate. Coloco umas colheres de chocolate enquanto penso em como me assustaria se sentisse algo atrás de mim e vou buscar o leite ao frigorífico sempre com o olhar no chão. Eu gosto de colocar primeiro o chocolate na tigela em vez do leite. Assim posso verter o leite depressa e vejo o leite a ficar da cor do chocolate. Acabo sempre por colocar mais duas colheres. Gosto de estar acordado à noite. Está tudo tão silencioso que me consigo ouvir respirar. O cabelo comprido põe-se na frente dos olhos quando volto a colocar o leite e o chocolate no lugar. Mas eu gosto. Quem é que perde tempo a escrever sobre isto? Eu acho que a minha vida ou a maneira como a vivo assenta bem no rótulo de falhado. E ainda tenho 19 anos.
Mas é nisso que penso quando estou aqui completamente sozinho. É isto que penso. Estou completamente sozinho. Não imagino que exista uma única pessoa que seja capaz de me ter no pensamento neste momento. Acho que isso ainda me faz sentir mais abandonado. Mas hey, isto é a vida não é? Qual o mal de mais um gole de leite com chocolate?
A cama está por fazer á 2 dias e mesmo assim deito-me nela. Nem me dou ao trabalho de tirar a roupa. Merda de caneta. Acho que me fascina a ideia de ter comigo pessoas que pensam da mesma forma que eu. Não alguém que seja uma cópia de mim. Mas que sintam o que eu sinto. Mas o que é que eu sinto? Eu não sinto nada. Eu sinto o vazio. Um vazio palpável que me dá vontade que alguém o apalpe comigo. O que é que eu estou a tentar dizer?
Acho que queria partilhar as minhas ideias por fotografias. A fotografar a cama exactamente com esta iluminação, o caderno, a caneta, a minha perna cruzada e a minha mão a escrever, exactamente como agora estou a ver enquanto escrevo. Acho que daria uma boa fotografia… Mas eu sou um falhado.
Gostava de saber o que torna as pessoas únicas. Acho que quase nunca na minha vida (ou na falta dela) olhei para alguém e disse para mim mesmo “uau… tudo o que fazes deixa-me ficar especado à espera do teu próximo movimento.”
Porque eu gosto de uma simplicidade inata que consegue tornar as pessoas únicas, na maneira como olham para as coisas que as rodeiam, da maneira como sorriem ou até fumam. Eu não ligo aos meus detalhes, mas os detalhes do mundo fascinam-me.
Eu acho que nem sequer reparo no meu aspecto. Já não lavo o cabelo á uns dias muito menos uma lâmina na cara. Tenho o aspecto de um vagabundo, sobretudo neste ambiente. T-shirts rascas, calções de ganga, descalço e sem meias. Sou uma anedota.
É incrível. A minha mão tem um perfume que quase me faz querer trincar os dedos. É tão suave e no entanto tão intenso. Continuo a cheirar a mão enquanto escrevo. Não sei onde arranjei este perfume. Mas não é um perfume que é produzido, não vem de laboratórios ou plantas. É natural. O meu não pode ser. Nunca senti o meu cheiro além de ter bastante curiosidade em o descobrir. Acho que tenho que me limitar a perguntar às outras pessoas. Mas o que estou a dizer… Nem vale a pena. Eu acredito que o meu cheiro não tenha um terço do encanto do perfume que sinto na minha mão. Não me apetece largá-la.
A que cheira a minha pele? Se o perfume for o reflexo do interior de alguém, penso que a minha fragrância seja como uma flor mal tratada, uma flor que não encontra significado para existir, logo não desabrocha. Prefiro pensar assim. A minha segunda hipótese é um esgoto municipal.
Mas a minha mão… Faz-me imaginar sons na minha mente. Aqueles sons de roupas que se roçam entre respirações descoordenadas fruto do desejo. Este perfume está a brincar comigo.
Acho que vou continuar assim o resto da noite. Pode ser que agite um pouco os meus sonhos. É bom sonhar mas é mau quando acordámos e vemos que aquela realidade apenas existe na nossa mente. Os sonhos muitas vezes são um pecado a que temos direito mentalmente. Com tanta vontade dentro da nossa mente só pensámos como somos uma merda e se o que sonhámos não passa de um sonho por alguma razão é.
Eu acho que falo demais comigo mesmo. Acabo sempre por divagar. E acho que isso acaba por fazer com que continue aqui fechado. A pensar em algo impensável, a sonhar com algo surreal, a suspirar o mais sentido dos suspiros.
Resta-me olhar para o tecto e lembrar-me que o tempo está a passar, sem esquecer que me sinto completamente sozinho. Acho que é nesses momentos que aprendemos a viver. Ao saber que falhámos.

terça-feira, julho 19, 2005

Observando o lado vazio da cama

Ela parece feliz mas não sorri,
Parece triste mas não chora.
Observa o meu olhar mas não entende,
O que escondo em mim.
Apenas os olhos se movem,
Sem sequer pestanejar.
Gostava de poder falar,
Do que infelizmente consigo sentir.
A dor.
O amor.
O ódio.
A paixão.

Mas ela não responderia,
Muito menos sorria.
Fecharia os olhos por conforto,
E morreria para me visitar em sonhos.

Hoje é so mais uma noite sem sono,
Observando o lado vazio da cama.

sexta-feira, julho 08, 2005

Só mais um orgasmo

Madrugada.
Está tudo no seu devido lugar.
O mundo cumpre o seu horário, nascem e acabam vidas, sorrisos, choros, discussões, declarações, olhares, danças, passeios, fugas, seduções, orgasmos, tudo está a acontecer neste preciso momento. Aqui tudo está parado.
No chão, com as costas na parede fria, enquanto olho para o tecto de madeira, ouço as folhas lá fora que se masturbam numa orgia a que chamámos vento. Nada mais. Apenas folhas que se acariciam mutuamente. A porta á minha frente abre-se lentamente e nada. Ninguém entrou. Fiquei com calor e o vento parou. Sussurro mais uma vez as palavras que não existem. A televisão ligada mostra-me tudo aquilo que eu já vi e me é familiar. Futilidade. Persegue-me. Consegue ser melhor do que eu.
Terei que cortar o cabelo para me encaixar num grupo de pessoas que reagem e sentem as coisas de uma determinada maneira, terei que usar roupas para que as pessoas reparem nelas e se apercebam a como pertenço ao grupo que está na moda mesmo que o objectivo seja fugir dela, terei que usar palavras certas de maneira a parecer um poço de apatia. Só assim serei alguém, igual a todos os outros.
Eles gostam de brincar com os sentimentos uns dos outros. Existem manhas, leis, regras que obedecem para que tudo dê certo. Existe arrogância, audácia, falsa ingenuidade nos actos. E no final do dia todos deitam a cabeça nas suas almofadas felizes do que fizeram na vida até ao momento. Servem-se de modas e anti-modas. Ninguém é puro. Todos dormem. Filhos da puta!
O mosquito pousou no meu braço. Deixo-o continuar com o seu ritual e sinto a picada. Voou. Sou amargo.
Tenho as veias desenhadas a preto no meu braço esquerdo e assobio. Sorrio.
Concentro o olhar na guitarra sem cordas que está no chão. Ainda se consegue ouvir a distorção que continua no amplificador quando num momento primitivo, reagindo a sons cheios de raiva que acordaram aqueles que dormiam, arrancava as cordas num orgasmo musical.

sábado, julho 02, 2005

This is gonna be a good night

É impressionante como o mundo é pequeno. É tão estranho e ao mesmo tempo recorfortante sabermos que os locais que visitámos em criança agora são capazes de nos fazer sentir tão bem. Sentimos uma leve nostalgia que nos faz esboçar um sorriso mas acima de tudo existe tensão que se sente no ar parecendo que tudo aquilo está ali só para nós.
Eu só como torradas em ocasiões especiais.
A paisagem é a mesma, só que desta vez conseguimos dar valor ao que nos rodeia. É o local que á tanto tempo está na nossa mente para navegar durante a noite. As ruas estreitas que ficam tão bem enfeitadas quando o sol cai e nasce a luz amarelada do candeeiro de rua, onde ecoam os pequenos risos de quem se sente realmente bem e se vê o fumo de quem se lembrou de acender mais um cigarro. Tudo fica mais... nosso. E não há uma frase que consiga transmitir o que se sente no momento. Existem pontes que tremem, rios que matam e rochas que guardam tardes de conversa. Uma capela pecadora e uma pizzaria fechada. Uma pessoa que se sente parva e outra que ri da estupidez que presencia.
As ruas desertas ou pouco povoadas parecem ser a benção para quem realmente procura vida na vida. A sua escuridão combina com o que se sente dentro dos que nelas caminham criando uma sensação serenidade que quase parecemos entrar num filme que nos faz criar momentos como um simples piscar de olhos bem lento enquanto olhámos para o lado.
Pequenas mensagens são entregues, seja no silêncio, seja na voz que teima em não terminar uma frase com sentido. Nascem sorrisos que fazem nascer outros ainda maiores.
São rasgadas recordações da parede e nasce um fascínio pelo quarto onde a guitarra pede um acorde, a cama convida para assistir a um filme e as imagens que preenchem as paredes demonstram personalidade. Existem boas vibrações.
Observo de longe os poucos carros que passam na estrada enquanto sentado penso para mim mesmo, entre o silêncio, que não preciso de mais nada. Sinto-me no lar que nunca tive. Sinto-me de uma vez por todas bem comigo mesmo, longe de julgamentos, traições ou desconfortos.
Tanto riso. Crio ritmos de bateria numa mesa enquanto observo quem está distraído a observar as minhas mãos. Sento-me na divisão sem luz e sussurro as palavras que me aparecem na mente sem pensar nelas. E surge o silêncio. Que pode significar tanta coisa boa, como má. E aparecem na cabeça todas as emoções que não poderíamos ter no passado. Foi perdida a noção do tempo para começar algo que á muito estava escondido. Tudo isto entre o silêncio e a escuridão. Sentiu-se a intensidade.
Consegui ouvir um sorriso. É possível?