segunda-feira, novembro 28, 2005

Aqui dentro não existe nada

Já nada me sustenta ou alenta a não ser o vazio que me preenche dele mesmo.
Estas palavras que escrevo, que aos poucos vão criando estas pequenas frases, são os olhos de quem não se encontra, que quem em si se perdeu. Os olhos que numa angústia tão calma e ao mesmo tempo tão cruel, procuram o que nunca encontram. Nas minhas palavras e nos meus gestos, nos meus murmúrios e nos meus olhares está presente um turbilhão de emoções que se libertam numa tranquilidade inquietante, numa calma que dói demais.
Se encosto a cabeça para trás, nesta parede fria e me tento sentir a mim mesmo, não encontro nada a não ser uma respiração calma e um pensamento adormecido, que ao acordar apercebe-se do vazio que existe, da dor que cresce à medida que me apercebo do que não sou ou de quem sou.
Sinto o mundo a girar e consigo imaginar tudo à minha volta a viver. É como se conseguisse visualizar as pessoas apressadas na correria do dia-a-dia, como se conseguisse ver o sol, ouvir o ambiente diurno de uma cidade, o vento que percorre as folhas de uma árvore e até o chilrear de um pássaro. Ou então noutra zona do globo, sentir uma noite fria, chuvosa, observando as luzes das cidades que iluminam as ruas alcatroadas àquela hora abandonadas. Imagino as pessoas a sorrir e a chorar, a pensar ou mesmo a dormir. Até uma simples espera por um autocarro. É como se conseguisse visualizar tudo, imaginar tudo isso acontecer à minha volta enquanto sinto a lenta rotação do nosso planeta.
Aqui dentro não existe nada. Apenas o tempo que passa e não volta mais. Julgo-me doido pela consciência que tenho e por nada conseguir mudar, talvez seja esta a maneira que vidas como a minha funcionam. E julgo-me louco por me sentir tão sozinho, num mundo de gente que não conheço, mas que sinto que já os conheci a todos.
Já deixei passar muitos anos sem saber o que fazer, mas é nestes momentos em que me apercebo que não sei o que quero, ou então não quero nada. Não sei o que faço aqui. Só me perco mais um pouco quando aqui sozinho, entre um silêncio incómodo, me apercebo de uma angústia que cresce à medida que o meu pensamento se explora. Se um dia me olharam nos olhos desviaram a tempo para se aperceberem de tudo aquilo que ninguém desconfia.
Como já disse, aqui dentro, não existe nada.

domingo, novembro 13, 2005

não é nada

Nestas palavras encontra-se uma lágrima salgada, que entre um rosto que estremecia de emoção se perdeu. É só.