terça-feira, julho 31, 2007

A segunda pessoa do singular

Seguiste um rumo sem procurares qualquer um que fosse. Deixaste-te levar pela vontade. Fechavas os olhos com um sorriso quando aquele momento que todos ignoravam parecia queimar-te a alma de prazer. Muitas foram as vezes que paravas no tempo para te perderes no céu azul que observavas silenciosamente, quando não mergulhavas no nevoeiro de uma manhã adormecida ou te banhavas na chuva numa rua qualquer.
Drenaste tantas sensações que criaste o teu próprio aroma. Foste capaz de colorir as consciências mais cinzentas. Houve até uma altura que nem precisavas de acender o teu próprio cigarro.
Deixavas-te guiar pelos sons que te desenhavam as pinturas mais abstractas que este mundo conheceu e voltavas a ti serenamente. Num suspiro. E sorrias. Sentias com a alma quando te apaixonaste pelo vulgar. E o teu olhar transmitia a serenidade ausente em todos os que a procuravam. Acreditavas numa luta intelectual pela liberdade de sentir, que acabaste por espalhar no perfume que eras. Re-inventaste até o sentido das palavras. Foste o som, a cor e a essência num novo significado de sentir.

Mas um dia mentiram-te quando te confessaram a verdade que querias ouvir. A partir desse momento, nunca mais foste o que um dia fizeste de ti.

quinta-feira, julho 26, 2007

Passo a passo

Arrastem-me.
Chorem de tanto rir e continuem a arrastar-me.
Eu já referi a lua esta noite?
E os lampiões que se acendem quando sob eles passamos?
Iluminem o meu caminho e arrastem-me.
A estupidez tropeçou lá atrás.
Sintam-se livres de ser livres.
Contem-me aquilo que nunca ouvi.
E mostrem-me aquilo que eu nunca vi.
Ou criem tudo aquilo que ainda não senti.
Ofereçam-me sinceridade e compaixão que vos pago com a alma.
Porque eu mergulho em perfumes de cabelos e texturas de camisolas.
E deixo-me levar por caminhos que desconheço.
Que se foda o outro lado da estrada.
Eu vou neste porque assim o quis.
E continuem a rir, sem que os vossos olhos deixem de brilhar.

terça-feira, julho 10, 2007

O céu é azul

Não sei se o descobri hoje ou se simplesmente o azul está mais intenso. O que sei, que ao olho nu do céptico mal encarado parece desinteressante, é que hoje acordei, após vários anos podem bem ser simplesmente o meu primeiro minuto de vida, se é que algum dia nasci. Seguindo o raciocinio aparentemente pouco racional, nada nem ninguém me conseguirá garantir que tudo o que me rodeia não passa de criação que se desenvolve à velocidade do meu pensamento.
Existe um mundo, porque acho necessário haver um. As pessoas e as suas vidas, podem muito bem ser tramas que se desenvolvem numa parte do meu cérebro a que de momento não tenho acesso. O rádio, a tv e o jornal, vão mostrando tudo aquilo que secretamente imaginei e que decidiu chegar até mim no momento em que abri o jornal, liguei o rádio ou a televisão.
Mas até a merda dos dinaussauros devo ter inventado, para dar uma sensação de evolução natural. E para aqueles que gostam de encontrar um sentido nas suas vidas inventei a biblia ou qualquer outro livro que explique como supostamente chegámos até aqui.

O cérebro não é uma simples linguagem que nos permite identificar o espaço que o rodeia e interagir com ele. Num todo, em toda a sua complexidade e velocidade de processamento, é a fonte do que tudo existe e permite existir.

Por isso o céu parece-me mais azul e tudo o resto é uma novidade de energia e cor.