quinta-feira, março 09, 2006

Aqui deitado, tempo, existes apenas tu

A madruga chegou de novo.
Deito-me no chão deste quarto cheio de memórias de mim mesmo a fumar enquanto o olhar vazio se fixa no tecto de madeira e deixo o tempo passar-me ao lado. Não sou. Não tenho. Não consigo. Não existe. Sou um nada.
Sinto tudo morto lá fora. Aqui também. Lá foram encontram-se existências caídas no sono e nos sonhos das vidas que procuram e de algum jeito encontram. Aqui dentro encontra-se um corpo que inspira e expira instintivamente e uma mente preenchida por um vazio que impossibilita o ser de se ser. Pouco importa. Não importa. O tempo passa. O vazio permanece.
É fumada a nicotina que ajuda o tempo a passar de algum jeito sem que ele, o tempo, me viole e me deixe aqui, só, abusado e louco. É despertada a vontade que o sol não se erga por trás daquela colina e que de alguma forma estes sejam os últimos momentos de quem à muito deseja um fim que possa parecer involuntário. Os comprimidos acabaram e a droga foi levada por alguém que vertia lágrimas e dorme no quarto ao lado. A apatia existe em excesso. Sou excessivamente excessivo. Sou… não sei.
Amo tudo o que possa existir lá fora doentiamente. Até que me doa. E me traga até esta madrugada. Talvez já nem ame nada do que possa existir, por resultado do tempo que vem e tudo leva. Mesmo até quem somos.
Aqui deitado não há estrelas, nem luar, muito menos o som de um rio que rasga uma floresta que crie risos e incite a pegar na guitarra para mais um momento embaraçoso enquanto são cantadas, suavemente, palavras sentidas e tocados acordes que transmitem a dor que a voz não é capaz. Aqui deitado, apenas existe um tecto de madeira que esconde por trás todo o pó, todo o lixo que é acumulado. Bonito por fora, podre por dentro. Tectos. Existências.
Aqui deitado, tempo, existes tu e a tua infinidade de dores que aos poucos apresentas. Existe um corpo imóvel de um ser feio e podre. Exausto. Procurando o fim.
Existe um corpo…
Sem vida.

5 comentários:

Rosentau disse...

*

João Blümel disse...

O teu blog...a música (tua,suponho...), a singular forma de pensar e escrever, de expôr e te expôres...tudo isso...tudo isso faz-me pensar...
Todos nós e ninguém passou pelo mesmo que tu e todos nós e ninguém ultrapassou tudo...contudo eu creio que há sempre algo que nos prende à Vida. Por vezes basta questionar um pouco, ir à raíz das nossas crenças e valores (des)acreditados...E perceber que há luz, há sempre LUZ onde tu e eu e nós quisermos que haja. Life is too precious to waste and die for...
Gostei imenso do teu espaço e trouxe-me à memória 2 coisas: momentos menos bons e, acima de tudo, um genuíno sorriso por saber que foram ultrapassados e ainda mais por saber que TU também os podes ultrapassar. O poder da mente e do comportamento humano é absolutamente FASCINANTE. As barreiras somos nós e a sociedade que as criam. As barreiras...és TU que as quebras quando quiseres e como quiseres...
Eu sou livre...tu? ;)
Um forte abraço,

João

Anónimo disse...

Emoções profundas transparecem sempre nas tuas palavras...deixo-te um beijinho de boa noite :)

Anónimo disse...

eu ja nao me lembro do k disse, mas tinha qlq coisa a ver com telhados de tendas.
sim, esses sao melhors....




bjinho te*

Anónimo disse...

Amor, quatro letras em um significado tão grande,
A meu ver, o "a" primavera em nosso coração do primeiro amor,
O "m" maciez em nossa pele, diante do carinho e do afeto conjugados,
A letra "o" eliminar o orgulho para viver juntos para a eternidade,
E a letra "r"...risonhos dias na cumplicidade e sinceridade....
O amor em si não existe explicações e nem sabemos
o que realmente significa,
É um ato supremo entre duas pessoas afins.
A doação de almas e corpos , vidas que se
tornam um só, perante a eternidade....
Amor....apenas quatro letras
Dominando todo o ser humano,
Levando- o ao altar ou a rastejar o chão.
Porque, amor além de tudo
é nunca precisar
pedir perdão!