segunda-feira, maio 22, 2006

Preciso tanto do que não consigo sentir

Preciso tanto do que não consigo sentir.
Cada dia que acordo na cama do meu quarto, lembro-me de como o tempo desfigurou tudo aquilo que fui. Talvez porque não caminhe nesta vida vivendo mas porque caminho nela morrendo. Morro a cada dia que passa. Dentro de mim, nascem batalhas que perco sempre enquanto que a rotina de uma vida que nunca quis se faz sentir.
Quero ser crucificado por não desperdiçar tempo aos fins de semana para ir a um centro comercial ou ver a novela preferida do país. De não comprar constantemente coisas que a moda me tentou mostrar ou de não encontrar qualidade em tudo aquilo que uma multidão de gente segue cegamente. Não pertencer a um rebanho parece ser um crime que todos entendem, mas ter uma alma que é capaz de nos doer parece ser impossível. Começo a acreditar que não pertenço em lado nenhum.
Cada vez mais sinto a necessidade de fugir de mim mesmo e de tudo o que me rodeia. Porque tudo o que existe em mim são gritos de desespero que ouço constantemente quando estou neste quarto, ciente de tudo aquilo que lá fora me espera. Tudo o que existe em mim resume-se a um vazio que cresce à medida que me vou procurando dentro de mim mesmo numa viagem introspectiva que me dói bem lá no fundo. Tudo o que existe em mim, é a dor de ser quem sou e de não ser de outro jeito. É a angústia por um tempo que passa a correr sem uma vida conseguir agarrar, um desespero por nada nem ninguém entender como que é ter a solidão como a maior das nossas certezas. Tudo o que existe em mim é tudo aquilo que nunca quis. E por isso, desespero mais uma vez.
Talvez pertença aqui, a esta floresta longe de todas aquelas mentes que julgam e condenam numa balança injusta e parcial. Talvez pertença a esta floresta que me afasta de mim mesmo e onde me sinto abraçado pela paz desta natureza. Vou ficar por cá, com estas árvores que guardam nelas os meus suspiros e o rio que me lava a alma cada vez que fico longos minutos olhando-o fixamente.
Nada mais existe, a não ser este pedaço de terra e água. Por isso sorrio ironicamente para o céu azul que neste momento não me cai em cima, por saber que mais tarde ou mais cedo, vou acordar na cama do meu quarto, rodeado de tudo aquilo que me deixa cada vez mais a um passo da insanidade.


[9 meses. Para ti avó.]

5 comentários:

Anónimo disse...

"pertences aos que nao pertencem", ja te disse isso uma vez. ou se nao disse, devia ter dito.
sinto a tua falta. o resto já sabes e não me importa mais.

Anónimo disse...

Aquilo que vou dizer já é um lugar comum, porém é o que sinto:
Está muito lindo!
Beijinhos

Anónimo disse...

abraço te*

Lord of Erewhon disse...

As florestas sempre lavam a alma...

FilipaC disse...

Éu já li isso no fotolog. e acho q comnetei qualquer coisa acerca disso das nuvelas. não acho q sejam uma boa perca d tempo mesmo.



(Encontrei.te noutro espaço cibernautico ^^ sou a coisa. smurfette)