Lerei em voz alta, mesmo que o teu silêncio me magoe:
Estou á espera que me batam à porta e me esperem com um sorriso seguido de um abraço apertado em vão. Que venha a dor de tudo perder. Por mais que adormeçamos com o desejo de amanhã ver alguém que desapareceu, esse alguém nunca voltará. A voz, o olhar, o sorriso, os gestos, nada voltará. Apenas a saudade dolorosa de tudo o que se perdeu.
O dia nasceu calmo e silencioso, nem os passáros cantaram, nem o sol nasceu radiante e com vida. Limitou-se a nascer, na mesma serra de sempre e com o tempo ergueu-se lentamente. Nem estava quente nem frio, tudo seguia o seu curso silenciosamente. Só o teu nome, vezes sem conta, escrito na parede negra do meu pensamento. E o peso no peito, como se o coração estivesse a cair no vazio que hoje me criaste. Volto a ser criança e vejo-te da janela da minha antiga cozinha, a caires da tua bicleta e com o teu queixo ensanguentado a chorar. Com um avental estancam o teu queixo e abraçaste à cintura da minha avó em dores. E como um sonho, visito-te com jogos e ficámos tardes a jogar mega drive em tua casa, por vezes amuados um com o outro, por alguém ganhar mais vezes. E voltámos a lanchar, em cozinhas antigas o pão que o padeiro trazia a meio da tarde e um copo de leite com chocolate que na altura nos satisfazia mais do que qualquer coisa. Fomos vendo os nossos traços a desenvolverem-se, eu sempre fui o magrinho que não conseguia engordar. Caminhámos sempre juntos para o meio de rapazes e raparigas em diversas escolas que o tempo tornou-os como nossos conhecidos. Tu eras sempre o guarda redes e eu alguém que tentava pontapear uma bola.
Nunca me chateei contigo. Nunca. Nem quando não passávamos de crianças com um mundo por conhecer ou adolescentes com um mundo que lhes caía em cima. Mudámos de penteados, ambientes, conhecidos e amores, mas continuámos sempre os mesmos. Nem o tempo foi capaz de quebrar o que inconscientemente construímos. Apanhávamos sempre o mesmo autocarro, caminhávamos sempre a mesma rua, umas vezes com conversas mais semelhantes a outras mas nunca fomos capazes de nos afastar. Mexe-te! Levanta-te daí! Deixa-me apodrecer em mim mesmo como sempre tão bem o soube fazer mas não me persigas em sonhos que me acordem durante a noite.
Mexe-te! Ouve-me! Mexe-te! Pára com esse teu silêncio insurtecedor! Quero que me convides para mais uma partida de bilhar e me afastes das trevas que eu próprio semeei. Mas mexe-te! E não me abandones aqui enquanto quieto caminhas em direcção à terra que te comerá. Acorda e ri-te das lágrimas que nunca me viste derramar por ti ou de tudo aquilo que nunca te cheguei a dizer. Ninguém merece que o seu funeral seja no próprio aniversário.
E tenho tantas fotografias tuas cá dentro. Como tu, ao longe em mais uma manhã mergulhada num nevoeiro, a chamar por mim, de mochila ás costas, a caminho da paragem do autocarro. Ou o segundo antes de desviarmos o olhar um do outro, quando a estrada nos dividia cada um para sua casa. O teu rosto. Umas vezes mais sorridente que outras. Até mesmo quando segurava o teu corpo sem força, enquanto vomitavas depois de mais uma noite cheia de alcóol. As festas de aniversário que tinhas, quando éramos mais novos e recebias sempre algo que ansiavas por parte dos teus pais. A felicidade intensa presente no teu e no meu olhar, quando riamos de alguma piada que criavamos ou de quando recordávamos algum programa que tinhamos visto. Mesmo os teus sermões sarcásticos quando ias ter comigo atrás de um pavilhão qualquer enquanto fumava e faltava ás aulas.
"Então senhor Bruno, como passou?"
"És um anjinho!"
"Vai uma aposta?"
"Os teus crepes são uma merda"
"Ouvi dizer que hoje à tarde vens a minha casa"
"Eu espero por ti na paragem"
Uma imensidade de sons e imagens guardadas em mim. Partilhámos o mesmo sangue. Partilhámos uma vida. E isso, nunca me vou esquecer. Só não queria estar aqui para te ver partir antes de mim.
O céu estava limpo e nenhum pássaro ou qualquer nuvem se atreveu a rasgá-lo. Não haviam borboletas ou flores por desabrochar. Não se viam casais de mão dada passeando, nem se ouviam carros ou risos distantes de criança inocentes. Foi um dia de luto por ti.
sábado, setembro 16, 2006
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5 comentários:
Ainda bem que vim parar aqui! O texto prende a atenção. Nunca pensei em morrer no dia do meu aniversário.
Bom fim de semana!
Sim, um texto que nos prende.
gostei.
bravo quem orienta as teclas, pois as palavras estão bem vestidas!
abraço
O teu texto é o exemplo perfeito de uma das funções mais importantes da literatura: mostrar à humanidade que o amor e a amizade são superiores à morte... e que a palavra é uma espada que enfrenta o abismo do esquecimento!
Abraço.
O Pai Natal chegou mais cedo... :)=
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