terça-feira, maio 09, 2006

Fui à pesca

Fui à pesca.
Os violinos fora de tempo que tocam dentro da minha mente quando este quarto é trancado pararam mal saí porta fora. Invadiu-me o silêncio que encontrei cá fora, nestas ruas vazias que me levavam até à floresta que todos os dias observo da minha janela, a floresta que tanto gostava de visitar durante a noite, com todas aquelas pessoas que fossem capazes de sentir a apatia que dançaria connosco.
Os pássaros saíam dos seus ninhos e esvoaçam entre os pinheiros que cerravam o céu cinzento. Eu continuava a percorrer os pequenos trilhos, entre toda esta vegetação que, por momentos, me faz esquecer quão cinzento é o meu mundo.
Sinto-me só e apetece-me vaguear pela floresta. Quero esquecer um mundo de livros e secretárias, notícias e televisões, obrigações, rotinas ou responsabilidades. Quero encontrar o momento ideal para conseguir tocar no meu fundo e não me doer de novo. Para que um suspiro seja capaz de esboçar um leve sorriso.
Consigo ouvir ao longe o pequeno rio que corre no meio desta floresta, longe de tudo aquilo que possa existir no resto do mundo. E quando lá chego, sento-me no chão e observo tudo aquilo que me rodeia em silêncio. A minha mente brinca com a ideia de explorar, correr, rir, abraçar, chorar e brincar aqui, em plena madrugada, com quem merece e procura algo indefinível. Fumávamos tudo o que houvesse para fumar, enquanto esta água corria sem parar. Levava para longe as lágrimas que nos saíssem da alma e trazia uma esperança que já não conhecemos. A minha força passiva só é sentida no meu olhar distante.
Coloco o meu isco e lanço a minha bóia. Por momentos não existe mais nada a não ser todo este ambiente que me observa aqui sentado, sem motivações ou optimismos inocentes, de cigarro na mão, à espera da primeira criatura que morda o anzol.

2 comentários:

Anónimo disse...

eu gostava de ir à pesca.

Rosentau disse...

Também gostava.
"Quero encontrar o momento ideal para conseguir tocar no meu fundo e não me doer de novo.Para que um suspiro seja capaz de esboçar um leve sorriso."Que bonito!
És tu de novo,no abrigo da tua própria singularidade,no secretismo do teu silêncio feito palavras.