segunda-feira, março 21, 2005

É tudo tão engraçado...

É engraçado como a vida nos pode pregar rasteiras.
Tudo depende da maneira como a pessoa cai. Tudo depende de como a vida faz a pessoa cair.
A vida pode muito ser traiçoeira ao ponto de nos deixar subir num balão de hélio até a uma altura em que o balão rebenta e descemos de tudo aquilo que construímos. E enquanto caímos, temos aquela sensação que nos aflige dentro do nosso peito. Aquele vazio que enche o nosso peito de dor. Como se de uma esfera morna se tratasse que aumenta de tamanho lentamente enquanto nos perdemos nas memórias adquiridas ao longo do tempo. Quando alguém não espera cair, a queda é bastante aparatosa. Quando alguém não percebe que está a cair a melhor das consequências é uma morte rápida e indolor pouco depois de se aperceber que tudo vai desaparecer, para que não sinta a falta de nada.
Durante a queda sentimos que não podemos fazer nada pelo que está a acontecer, não temos alternativa do que viver o resto do tempo que nos está reservado a sofrer, por tudo o que sempre amámos ficar para trás, por sabermos que tudo aquilo que lutámos nos deixou para trás. A velocidade que caímos é tanta que nos dá a ilusão do momento nunca mais acabar, fazendo com que a dor se prolongue e aumente dependendo da altura que caímos e de tudo o que construímos. E como se não bastasse, furamos nuvens, que nos oferecem pela última vez, os perfumes que nos fazem recordar momentos importantes da nossa vida de sonho enquanto subíamos. Em segundos na nossa mente vagueiam olhares, rostos, beijos, aventuras, músicas, momentos únicos que sempre nos fizeram sentir vivos e felizes. Tudo aquilo que nos deu confiança, tudo aquilo que um nos fez sorrir aparece-nos agora negado e a dor é indescritível...
Tudo aquilo que quase religiosamente agradecíamos com um sorriso segundos antes de cairmos no sono agora nos faz sentir o oposto. Porque tudo isso agora se encontra longe de nós, cada vez mais longe. E pelo meio não temos tempo para perceber o que aconteceu de errado. Só o suficiente para sofrermos porque tudo aquilo que sempre quisemos nos largou e nos fez cair!
As pessoas que nos observam não têm tempo para reparar que choramos a não ser que se cheguem tão perto de nós que vejam a nossa expressão facial, porque todas as lágrimas ao longe parecem o brilho de uma estrela cadente.
E quando pensamos que aquela pessoa que a conhecemos por brilhar intensamente é aquela que cai com a maior das dores. Talvez porque as pessoas nunca se aproximam verdadeiramente umas das outras.

Eu ainda estou a cair.
Mas já consigo ver o local da queda.

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