sexta-feira, setembro 02, 2005

O ambiente cinzento

Era Inverno.
O ar gelava as bochechas e as mãos adormeciam. O céu estava cinzento. Todo o céu era apenas uma nuvem cinzenta, como se o sol nunca tivesse existido. Os carros passavam rápido e os passos das pessoas na calçada era apressado. Todos vestiam cores escuras e roupas quentes.
Naquela esquina, num abrigo, duas pessoas olhavam-se. Uma sentada no colo da outra, uniam as suas mãos nas costas uma da outra, decoravam os traços da face que viam a poucos centímetros. As peles macias e os lábios carnudos. Os olhos claros e penetrantes. A cidade continuava em movimento.
O sol não se punha nem nascia, tudo estava pintado de cinzento, como se a qualquer momento começasse a chover, apenas restava uma leve iluminação que o relógio roubava.
Sentiam-se beijos lentos, longos e narizes frios, cachecóis escondiam pescoços quentes, suaves e gorros cabeças despenteadas. Ouvem-se sons de casacos que se movem e o som de fundo de uma cidade cinzenta por natureza. Poucas palavras eram ditas. Esboçavam-se sorrisos. Perfumes quebravam o ar frio que se sentia.
Palavras ingénuas.
Escurecia e o céu pintava-se de negro. O cinzento transformara-se aos poucos negro. Longas despedidas recheadas de abraçados, árvores nuas ao longo da rua definiam o percurso.
Alguém caminhava lentamente com o olhar pregado no chão fumando um cigarro. Olhou para o céu que lhe trouxe uma memória, soltou um leve suspiro e continuou.
Era eu hoje.

2 comentários:

Anónimo disse...

mas ha sempre alguem k se recusa a usar roupas escuras, nao ha?

bjinho*

Anónimo disse...

Era eu, também.