sexta-feira, setembro 16, 2005

Sem título

Sinto-me traído.
Estou deitado novamente e apenas ouço a minha frágil respiração. O meu quarto é tudo o que conheço desde à alguns meses e memórias são tudo o que faz parte do meu dia a dia.
Sinto o coração tão pesado que chega a doer, alguém está a sorrir.
O vazio no peito aumenta de tal maneira que este momento parece uma eternidade. No entanto, nenhuma lágrima se solta. A dor é intensa demais para se drenar.
Pertenço a uma realidade que um dia julguei impossível.
Apenas existo eu, um corpo com o olhar morto entre estas quatro paredes, com o cabelo sujo que me cai pelo rosto e nada se move. Silêncio absoluto e uma dor inexplicável por palavras.
Um aperto, pela vida que lá fora se vive e que me abandonou.
Um desespero, pela sensação de abandono que aumenta no vazio infinito que me encontro.
Como se tivesse acabado de acordar de um sonho que durou bastante tempo, agora volto à realidade que além de dura é injusta. Quando tudo o que sobra são apenas memórias de sorrisos e momentos que hoje são impossíveis de reviver com quem quer que seja.
Desde que me lembro de mim até hoje, só me tenho a mim mesmo neste preciso momento. Todos se afastaram. Não existe ninguém. Ninguém que venha ter comigo para colocar o cabelo atrás da orelha e passar a mão na pele áspera. Porque todos têm uma vida e eu tenho somente memórias.
Eu sou sempre o único que continua a escrever sobre como é viver no vazio mais doloroso e incompreensível para quem neste momento tenha uma vida. Todas as verdades que um dia me foram apresentadas como tais, hoje são quebradas e invertidas. Desde sempre foi assim, com qualquer pessoa, em qualquer situação.
E o que me possa fazer pensar que um dia tudo muda pode muito bem no futuro colocar-me numa situação semelhante a esta. Não iria ser a primeira vez.
Porque posso dizer que já vi muito, mas todos que me conheceram sabem que nunca fui nada.
Não preciso que ninguém entre por este quarto e me diga como me entende. Só quero que me observem e saibam como eu realmente sou enquanto fixo o meu olhar nos olhos de quem me observa.
Sem amor, sem ódio.
Apenas alguém que já desistiu de viver à algum tempo.

1 comentário:

Menina Marota disse...

Entrei aqui por acaso, através de um comentário que deixaste algures e me despertou a atenção. Chamou-me a atenção a tua idade. E mais ainda, as tuas palavras.

Como é que alguém com tão pouca idade, pode escrever assim tão intensamente?

Tenho 2 filhos e, por vezes penso se saberei em concreto o que lhes vai na alma.

A filha já está na casa dela... feliz, se bem a conheço.

O filho um adolescente de 17 anos, por vezes tenho dificuldade em entrar no "mundo" dele.

Por isso chama-me sempre a atenção Blogues, onde jovens escrevem como tu escreves.

É ficção? É realidade?

É a tua alma que colocas aqui? ou é tão sómente, uma forma de escrita tão sensível, que nos leva a imaginar que é real, tudo o que escreves.

Seja como for, gostei de ler.

Seja como for, existe um mundo lá fora há tua espera, pessoas maravilhosas que te farão sorrir...

Sorri para a vida que desponta para ti, é o que desejo muito sinceramente...

Um abraço ;)